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MÚSICA

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Professor é veterano das fanfarras de Passos há mais de 50 anos

Reportagem e fotos: Keuly Vianney
n.noticiar@gmail.com
19/04/2024

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E chegou o período de ouvir  pelas ruas de Passos a cadência das fanfarras escolares. Até o dia 14 de maio, quando se comemora o aniversário da cidade, é comum presenciar o ensaio das tradicionais bandinhas, que são uma das principais atrações dos desfiles cívicos dando um show com sua batida forte e uniformes colegiais. Por terem essa importância cultural para muitas gerações de passenses, o Noticiar.net entrevistou o professor Samir Miguel Hadad, veterano que coordena fanfarras há mais de 50 anos. 


Samir, de 80 anos, sempre esteve ligado ao tema em Passos, desde a década de 1960, iniciando como estudante corneteiro e tornando-se referência na coordenação quando o assunto são elas, as fanfarras. Ele calcula que, atualmente, existem de 10 a 12 fanfarras em atividade nas escolas da cidade e que se prontificam a desfilar em datas comemorativas, principalmente no 14 de maio e o 7 de setembro, dia da Independência do Brasil. 

"Nos desfiles cívicos, as fanfarras são as principal atração. Poderíamos ter mais escolas com fanfarras, pois elas incentivam a cultura musical nos alunos. Algumas escolas já tiveram fanfarras à altura, mas hoje não existem mais. Sempre vejo que países europeus mantêm a tradição das fanfarras há mais de 100, 200 anos. No Nordeste, algumas cidades possuem fanfarras, mas aqui no Sudeste é bem menor essa tradição cultural. É uma pena", diz o professor. 
 

Para ele, as fanfarras atuais se desenvolveram em relação àquelas de 50 anos atrás, melhorando a qualidade de execução com a introdução de mais instrumentos. "Hoje, trabalhamos mais a percussão com um repertório baseado em músicas populares, clássicas e até passagens de óperas, como Aída, de Verdi", explica o professor. 

Ele acredita que as fanfarras passenses atingiram um bom nível musical ao longo das décadas. Uma completa deve possuir 60 instrumentos, sendo a maioria dos músicos amadores treinados na percussão, com bumbo, tarol, surdos e pratos - equilibrados com as cornetas.


Samir está á frente da fanfarra das veteranas do Colégio Imaculada Conceição (CIC), famosa pela performance nos desfiles cívicos de Passos. "São cerca de 60 mulheres, que desfilaram quando jovens e, hoje, ainda participam como veteranas", conta. 

Syzila, uma das filhas de Samir, num dos desfiles  nos anos 2000 / Fotos: Arquivo Pessoal

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O professor só usa as mãos para coordenar os componentes e, às vezes, apela para o apito na rua para guiar os músicos e alinhar a batida. São cerca de 2 meses de ensaio antes da apresentação impecável no 14 de maio. 


Samir calcula que já treinou cerca de 500 alunos durante este mais de 50 anos à frente das fanfarras escolares em Passos, incluindo familiares, como as filhas Syzila, Dariane e Liliane, e duas netas, Paula e Gabriela. 

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Fanfarra do CIC nos tempos contemporâneos com seu uniforme mais atual coordenada por Samir

Rivalidade
A ligação de Samir com as fanfarras começou cedo, quando era aluno do antigo Colégio de Passos. Foi corneteiro de 1958 a 1962, com o talento despontando nos primeiros ensaios. Dessa época, lembra da rivalidade entre as duas principais fanfarras da cidade: do Colégio Estadual, hoje E.E. Prof. Júlia Kubitschek, e do Colégio de Passos. 


"Havia essa rivalidade entre alguns alunos que faziam até ameaças na rua", lembra. "Depois, fui pegando experiência e sendo indicado para ensaiar e coordenar as fanfarras, como a do Tiro de Guerra em 1963". 

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Fanfarra do Colégio de Passos desfilando na rua Cristiano Stokler na década de 1970 / Fotos: Arquivo Pessoal

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Fanfarra do Colégio Estadual em desfile no centro de Passos; rivalidade era grande

A coordenação profissional das fanfarras veio em 1973 e Samir assumiu a banda do Colégio Estadual, ficando lá até 1977. Ele lecionou aulas de filosofia e letras entre 1965 e 1969, mas a paixão sempre falou mais alto pela educação física, graduando-se em 1975. Em 1977, começou na coordenação da fanfarra do CIC, onde ficou até se afastar por um problema de saúde em 2010. Retornou mesmo aposentado para guiar a fanfarra das veteranas. 

Histórias
São muitos anos de dedicação, desfiles e histórias na vida de Samir. Uma delas é que as fanfarras de Passos começaram a desfilar todo 14 de maio a partir de 1958, quando se comemorou o centenário da cidade. "Antes, elas desfilavam no dia 21 de abril e no 7 de setembro. Depois de 1958, virou tradição cívica desfilar no dia do aniversário da cidade", relembra. 


Samir acredita que aquele ano também marcou definitivamente as fanfarras passenses. "A fanfarra da Escola Agrícola de Muzambinho se apresentou como convidada e fez um desfile muito bonito, pois eles eram organizados e tinham um belo uniforme, servindo de inspiração para o desenvolvimento das fanfarras de Passos", afirma. 

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Fanfarra do Colégio de Passos desfilando com uniforme de gala em Boa Esperança; na época, era comum o convite para apresentação em outras cidades

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Fanfarra do Colégio Estadual no centro de Passos; uniforme era atração à parte

Outro episódio marcante na memória de Samir ocorreu em 1964, quando se instaurou a ditadura militar no país (1964-1985). Num dia de ensaio no centro da cidade, a fanfarra foi se aproximando do Batalhão de Polícia Militar. "De repente, nos vimos cercados por policiais armados. Eles acharam que era uma manifestação de estudantes, o que era proibido na época. Tinha 20 anos e fiquei com medo, pois a ditadura já tinha prendido dois professores conhecidos. Mesmo explicando que tratava-se de um ensaio, ordenaram que paralisasse a fanfarra e todos voltassem para casa", conta. 


E o professor tem um sonho: fundar em Passos uma banda marcial, formada por grupo de músicos que utilizam instrumentos de metais e percussão, com incorporação de movimentos corporais, principalmente de marchas, para apresentação ao ar livre. 

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