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LITERATURA

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2 "escritores passenses" são expoentes do modernismo brasileiro

Reportagem e fotos: Keuly Vianney

n.noticiar@gmail.com

05/07/22- Atualizada em 06/07/22

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Antigo prédio do Fórum, hoje Palácio da Cultura, chamava Desembargador Wellington Brandão

No ano em que se comemora o centenário da Semana de Arte Moderna,  importante movimento de ruptura da cultura brasileira promovido no Theatro Municipal de São Paulo em 1922, dois escritores que moraram em Passos são apontados como expoentes do modernismo em Minas Gerais, num levantamento realizado pelo jornal Folha de São Paulo. Wellington Brandão (1894-1965) e Godofredo Rangel (1884-1951) fixaram residência em Passos por um tempo, o que pode ter influenciado em suas produções literárias. 


No mapeamento realizado pela Folha em Minas Gerais, Wellington Brandão e Godofredo Rangel aparecem ao lado de Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), considerado um dos maiores escritores brasileiros do século 20. Em São Paulo, estão os principais nomes da Semana de 1922, como Mario de Andrade (1893-1945) e Oswald de Andrade (1890-1954) na literatura e Tarsila do Amaral (1925-1973) e Portinari (1903-1962) nas artes plásticas. 

Veja abaixo reprodução dos escritores mineiros divulgados na reportagem da Folha de São Paulo, onde pode ser visto o nome de Brandão e Rangel. O mapeamento do jornal contempla o período de 1900 a 1937, incluindo manifestações de artes visuais e gráficas, literatura, música, fotografia e cinema.

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Reprodução/FSP

Wellington Brandão é um nome muito conhecido em Passos, já que o prédio centenário onde hoje está instalado o Palácio da Cultura foi batizado com o seu nome quando ainda era do judiciário: Fórum Desembargador Wellington Brandão, sendo mantido na nova construção da Justiça, na avenida Arlindo Figueiredo. 

Inaugurado em 2008, o novo Fórum homenageou o advogado e literato com uma escultura na entrada do prédio e na qual estão versos de uma de suas poesias modernas: "... não te exaltes. Mas não te negues. Sê como as montanhas: coroa-te humildemente de estrelas". 


Conforme o professor de língua portuguesa e escritor de Passos, José Reis Santos, Brandão tinha uma ativa vida literária. "Ele foi membro da Academia Mineira de Letras e participou de dois movimentos literários: simbolismo e modernismo", diz. 

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Escultura de Wellington Brandão na entrada do Fórum de Passos

Brandão nasceu em Visconde de Rio Branco, na zona da mata mineira. Formou-se em Ciências Jurídicas em 1917 e, dois anos depois, casou-se com Maria Moreira Brandão, com quem teve 11 filhos, sendo nove deles nascidos em Passos. 


Chegou à região em 1920 nomeado como promotor de justiça da Comarca de Cássia. Em 1922, mudou-se para Passos, onde montou seu escritório de advocacia. Paralelamente, desenvolveu seu dom literário publicando várias obras.

Principais obras de
Wellington Brandão

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Reprodução

*Deslumbramento de um triste (1921)
*Seara da emoção (1925)
*Homem inquieto (1926)
*O Tratador de pássaros (1935)
*Finale (poemas de 1942)
*Quarta República (ensaio de 1951)
*Caminhos de Minas (1958) 

Assinou diversos artigos políticos sob o pseudônimo de Fidélis Florêncio e publicou várias obras. No entanto, a poesia "O Tratador de pássaros" (1935) é considerado sua obra prima, enquanto o ensaio "Caminhos de Minas" (1958) é referência didática em estudos ou pesquisas sobre Minas Gerais. Em 1937, foi eleito para a Academia Mineira de Letras.


Como articulista, colaborou para os jornais do Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Em 1928, fundou em Passos uma fábrica de manteiga no bairro São Benedito. Suas atividades de advogado, escritor, poeta, fazendeiro e industrial o levaram à política, sendo eleito deputado federal em 1945. 


Em 1956, assumiu o cargo de procurador-geral do Estado de Minas Gerais, função que exerceu até abril de 1961, quando ingressou no Tribunal de Justiça-MG. Brandão faleceu em Passos no ano de 1965, sendo considerado um dos beneméritos da história passense. 

Já Godofredo Rangel teve uma passagem mais rápida por Passos. "Pelas informações, Rangel atuou na cidade entre 1918 e 1920. Era juiz de direito e manteve farta correspondência com o escritor Monteiro Lobato, da qual surgiu o livro "A Barca de Gleyre". Na obra de autoria de Lobato, Passos é citada uma ou duas vezes", conta o professor e escritor Santos. "A obra "Vida ociosa" do Rangel foi publicado em 1917. Depois, em livro impresso, em 2020", completa. 


Rangel nasceu em Carmo de Minas, morando em Três Corações grande parte de sua infância e adolescência até mudar-se para São Paulo, onde cursou direito na Faculdade do Largo do São Francisco. Foi lá que conheceu e formou um grupo de amigos: Lino Moreira, Tito Lívio Brasil, Albino Camargo, Raul de Freitas, José Antônio Nogueira e Monteiro Lobato, com quem o mineiro se correspondeu por mais de 40 anos. 

Na magistratura a partir de 1909, Rangel preferiu o interior e foi juiz em várias cidades do Sul de Minas, incluindo Passos e Lavras, onde se aposentou em 1937, sendo eleito para Academia Mineira de Letras em 1939. Também atuou como professor nesses locais e, ao mesmo tempo, escrevia seus livros. Em 1917, começou a publicar capítulos de seu primeiro romance, "Vida ociosa - romance da vida mineira" na edição vespertina do jornal O Estado de São Paulo, conhecida como Estadinho, terminando em 1920 a sua íntegra. 

Principais obras de
Godofredo Rangel

Reprodução

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*Vida ociosa - romance da vida mineira (1917)
*As Andorinhas (1922)
*A filha (1929)
*Um passeio à casa do Papai Noel (1943)
*Histórias do Tempo do Onça (1943) 
*Os humildes (1944)
*Falange gloriosa (1955)
*Os bem-casados (1955)

Os próprios colegas da época reconheciam o talento de Rangel, assim como escritores contemporâneos o homenagearam em publicações e destacam que a obra do mineiro é um retrato de Minas, de sua gente, seus costumes e sua geografia. Por isso, "Minas deveria cultuar Rangel de todas as formas". 

Expressões
A Folha de São Paulo publicou o levantamento na última semana de junho apresentando 169 expoentes do modernismo em cinco regiões do Brasil. A reportagem revela como exposições, livros e produções para televisão que acontecem neste ano em comemoração ao centenário da Semana de 1922 relativizam o protagonismo paulista nas expressões modernistas espalhadas pelo Brasil no início do século 20. 

Ativistas e produtores culturais  entrevistados pela Folha defendem que inúmeras expressões modernistas aconteceram no país, antes e depois de 1922. A reportagem explica que "não pretende abarcar a totalidade de expoentes modernistas que surgiram no Brasil afora, apenas representar a variedade expressiva de nomes".


O modernismo é considerado o grande movimento valorizador da cultura brasileira no início do século 20, pois o país consumia o que vinha do exterior. Os modernistas queriam valorizar a cultura tupiniquim por meio das várias expressões artísticas, a começar do Antropofagismo, liderado por Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral. 


Tanto o escritor como a pintora criaram uma corrente de vanguarda com a meta de estruturar uma cultura nacional a partir do canibalismo da influência estrangeira no país. Unindo com outros artistas da época, principalmente Mario de Andrade e Oswald de Andrade, promoveram a Semana da Arte Moderna, que ocorreu entre os dias 13 e 17 de fevereiro de 1922 no Teatro Municipal de São Paulo. 

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