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CULTURA

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Passos pode ganhar Museu de Máquinas de Costura Antigas

Reportagem e fotos: Keuly Vianney

n.noticiar@gmail.com

03/12/2023

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Passos, no Sul de Minas, pode ganhar um Museu de Máquinas de Costuras Antigas. O historiador Norival Barbosa é um restaurador dessas peças raras existentes na casa das mulheres brasileiras, que muitas garantiram seu sustento ao trabalhar como costureiras, principalmente no século 20. Com mais de 100 unidades, de várias marcas européias e americanas, o colecionador pretende doar parte do acervo ao município caso o poder público tenha interesse em criar o espaço e preservá-las como realmente merecem. 


"Se o município se interessar em criar o museu, toparia em doar as máquinas restauradas. Mas, tenho condições para a doação, que precisa ser documentada para que o poder público se comprometa a realmente investir num espaço dessa natureza", diz Norival. "Mas, ainda estou estudando como fazer a doação". 

A ideia do historiador é doar 80% do acervo para um museu em Passos e os outros 20% para Guapé, sua cidade natal. Para quem conhece só a marca Singer, a dominante mundial no mercado de máquinas de costuras, a coleção de Norival possui raridades dos séculos 19 e 20 de marcas históricas da Alemanha, Estados Unidos, China e Brasil. 
 

Dentre elas, Wheeler & Wilson, White Rotary, Sun-Star, Durkopp, WillCox & Gibbs, Zundapp, Marshall, Mercedes Benz (sim, é a mesma da marca de carros!), Pfaff, Olimpia, Imperial e Jupiter, só para citar algumas. A mais antiga da coleção data de 1854, uma Wheeler & Wilson. 

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Primeira máquina totalmente restaurada por Norival em quatro meses de trabalho

Há 12 anos, o aposentado se dedica ao garimpo e restauração das máquinas de costura. Ele conseguiu resgatar peças em pedal e motorizadas, como uma produzida em 1875 na Broadway, em Nova York (EUA). "Naquela época, no Brasil ainda não existia energia elétrica, mas nos Estados Unidos já se produzia máquinas com motor, pedal e acelerador. Máquinas fabricadas totalmente no Brasil só começaram nos anos 50 e 60 ", lembra o historiador que também possui a primeira overloque da Singer de 1920. 
 

Ele garimpa as máquinas pela internet e vai até as cidades para comprá-las  de lojas de antiquários  ou pessoas que querem se desfazer das peças. O aposentado já foi para Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Ribeirão Preto, Pirassununga, Campinas especialmente para adquirir as tão cobiçadas máquinas. Algumas merecem destaque especial como no caso de duas máquinas do século 19 vindas do interior da Inglaterra pela mãos de um amigo de Norival, como os modelos Jones e Wheeler & Wilson, que chegaram ao Brasil por navio. 

A montagem e regulagem são realizadas em Belo Horizonte. A cromação também não é feita em Passos, assim como os adesivos que vêm pelos Correios dos Estados Unidos, Austrália e Portugal, para manter o estilo e padrão de beleza de época. Além do restauro, Norival também cuida das caixas de suporte das máquinas que exigem este tipo de recurso. As caixas são feitas em madeira para dar suporte à peça.  
 

Máquinas antigas mais leves pesam cerca de 10kg, enquanto as mais pesadas chegam até 50kg por serem produzidas em ferro. Veja Galeria com fotos das máquinas; arraste e clique nas imagens para ler a legenda.

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Norival com raridade do acervo: modelo Jones, conhecido como "boca de serpente, pescoço de cisne, fabricada na Inglaterra entre 1870 e 1880 

Filosofia
"Ainda não calculei o investimento que fiz na aquisição e na restauração das máquinas. Faço de coração", garante. "Hoje, são elas que me movem no sentido filosófico de vida. As máquinas me fazem locomover pelas cidades para comprá-las e me comovem. Enquanto eu tiver inspiração, vou me doar para restaurá-las", diz Norival, que veio para Passos aos 9 anos com a família devido à construção da Represa de Furnas no final da década de 1950 e início dos anos 60. 

 

Ele lembra que a máquina de costura era um artigo sempre presente em casa, pois a mãe era uma exímia costureira. "Desde criança tive fascínio por peças antigas. Depois de aposentar, me dediquei ao restauro das máquinas", conta o historiador, que possui em sua residência no bairro Coimbras móveis, louças (incluindo uma porcelana francesa Limoges), pratarias e outros artigos de época muito bem preservados, como cadeiras de barbeiro, balanças, ferros de passar roupa e outras peças, que ele também restaura. 

As máquinas de costura, entretanto, é que dominam o ambiente pelo grande número de peças. Elas são acomodadas em prateleiras e móveis na sala, na copa e nos quartos, encaixando na decoração à lá Norival. O aposentado trabalha num barracão próximo à sua casa, onde realiza as restaurações. Muitas chegam enferrujadas, faltando peças, amassadas ou totalmente danificadas.  


"A maioria das máquinas precisa de restauração e começo do zero a partir da desmontagem. Todas as peças são revitalizadas ou até refabricadas. Vejo como um ritual, pois são várias fases para recuperar, cromar, pintar e adesivar até que elas estejam esteticamente bonitas e funcionando normalmente", garante Norival. "O restauro precisa de tempo e habilidade. Hoje, consigo restaurar em dois meses, mas teve máquina que fiquei quatro meses restaurando".  

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Antes e depois

 

Para você ter uma ideia do trabalho meticuloso de restauro de Norival Barbosa, veja nas fotos a comparação do antes e depois de uma máquina de costura Rhenania, de origem alemã, da época do Império Brasileiro (1822-1889).

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