CULTURA
Família Simosono preserva minimuseu fotográfico em Passos
Reportagem: Keuly Vianney
Fotos: Aluísio de Souza
n.noticiar@gmail.com
26/02/2023
A família Simosono ainda preserva um minimuseu com peças consideradas raras para os amantes da fotografia em Passos, no Sul de Minas. O acervo reúne máquinas, lentes e acessórios fotográficos profissionais, que vêm sendo amealhados por um dos fotógrafos mais tradicionais da cidade, Afonso Simosono, ao longo de seus 80 anos de vida e profissão na arte de captar imagens e momentos.
São cerca de 130 peças fotográficas analógicas, entre umas 30 câmeras e 100 lentes objetivas. Todas estão prontas para uso pela ótima conservação e possuem comando manual no foco, diafragma, entrada de luz e uso de filme fotográfico, muito diferente das máquinas digitais que viraram febre nos últimos anos. Dentre elas, as principais marcas mundiais usadas pelos mais renomados fotógrafos vindas, principalmente, do Japão e da Alemanha, como Rolleiflex, Crown Graphic, Mamiya, Nikon, Fuji, Yashica, Olympus, Canon, Exacta, Heliar, etc.
Peças fotográficas, entre máquinas, lentes e acessórios, são mantidas numa estante na loja da família / Foto: Afonso Lemos Simosono
Além do acervo material de grande valor simbólico, foi por meio das lentes dessas máquinas que Simosono registrou momentos históricos da cidade, pois por muitas décadas ele fotografou os principais eventos sociais de Passos e região, como casamentos, fatos políticos, carnavais, desfiles, revéillons, exposições agropecuárias, bailes no Clube Passense de Natação e de debutantes no Passos Clube e até as turbinas da Hidrelétrica de Furnas.
"Esse minimuseu das máquinas usadas por mim é um espaço da minha vida. Tenho saudade dessa época analógica, pois as fotos dependiam mais da sensibilidade do fotógrafo, em comparação com as digitais", diz Simosono, que aprendeu a fotografrar ainda jovem, no início da década de 1960.
Minimuseu preserva três máquinas antigonas e sanfonadas, centenárias do modelo daguerreótipo, do século 19
No minimuseu, estão duas raridades da coleção: máquinas bem antigas e centenárias japonesas, feitas de madeira e com lente alemã que funcionam no modelo daguerreótipo, que leva esse nome devido aos estudos de Louis Daguerre no século 19. O francês foi considerado o autor da primeira patente para um processo fotográfico em 1835, revolucionando o setor ao possibilitar a comercialização das câmeras ao grande público.
"Na Passos dos anos 60, esse tipo de máquina só era usada dentro do estúdio. Por muito tempo, só existiam essas câmeras para fotografar e as pessoas e famílias vinham à loja para fazer fotos de casamento e outros eventos em preto e branco. Nos sábados, era comum os passenses formarem fila para tirar as fotos na frente da loja. Também era usada uma chapa de vidro nesse processo para cada foto, e quando saía fora de foco, a gente retocava a chapa", lembra Simosono.
Outra peça centenária presente no minimuseu é uma lente da marca Heliar, da Alemanha. "Na minha opinião, é a melhor lente fotográfica produzida até hoje. Muitos fotógrafos a namoraram, mas nunca vendi. É uma raridade", explica.
Nesse período, Simosono ainda trabalhava em Passos com outro fotógrafo japonês, o Yokoyama, proprietário de uma das primeiras lojas fotográficas na avenida dos Expedicionários. Ali, aprendeu muito sobre o ofício da fotografia, que se tornou uma paixão. Em 1964, teve a oportunidade de comprar o estabelecimento do patrão que se mudou para Guarulhos (SP), criando seu próprio espaço fotográfico na mesma rua.
Já para o final dos anos 60, Simosono começou a usar máquinas 6x6, que possibilitaram aos fotógrafos sair dos estúdios e fotografar eventos onde eles acontececessem. Mas, o filme vinha somente com 12 chapas. Dessa época, ele possui câmeras japonesas, como a Mamiya e Yashica.
A mais badalada, entretanto, é a Rolleiflex, lançada em 1929 e montada em metal e vidro cobertos de couro, virando objeto de desejo de muitos apreciadores da fotografia por ter apresentado o inédito formato TLR de lentes gêmeas. "A Rolleiflex é minha xodó pela qualidade da foto. É uma raridade mesmo e somente colecionadores a possuem", afirma.
Modelos de Rollei da família Simosono; marca é o xodó dentre todas as máquinas do minimuseu
Seguindo a evolução na fotografia, as câmeras 35mm fazem parte do trabalho de Simosono nos anos 1970 e 1980, que estão bem guardadas no minimuseu. Com essas máquinas, o fotógrafo já tirava 36 fotos coloridas por filme e as carregava com mais facilidade, devido ao menor tamanho.
A última máquina analógica adquirida por Simosono em 1996 foi uma Nikon, marca a qual considera prática, de ótima qualidade e com designer bonito. Ela também enriquece o acervo, pois a, partir daí, as digitais eram mais acessíveis e começaram a invadir o mercado, popularizando de vez o uso das câmeras até chegar no celular. Veja outras peças do minimuseu na galeria abaixo; arraste e clique nas fotos para ler a legenda.
Depois de 56 anos de trabalho, Simosono só deu uma parada com o isolamento social durante a pandemia de Covid-19 a partir de 2020. Ele destaca a importância de manter o minimuseu como seu patrimônio profissional.
"Com a fotografia, construí minha profissão, minha família e fiz amizades. A fotografia representa um registro de momentos felizes e tristes das pessoas. Além disso, as fotos estão em muitos locais que as pessoas nem imaginam, como na ciência e na medicina, ajudando na evolução da humanidade", finaliza.
Filho fotógrafo ajuda na manutenção do minimuseu
O filho fotógrafo de Afonso Simonoso ajuda na manutenção do mininuseu fotógrafico, que fica na loja da família na avenida dos Expedicionários. Afonso Lemos Simonoso sempre mantém a segurança, a limpeza das peças e o espaço livre de umidade, que pode provocar oxidação nas câmeras e lentes devido à ação de fungos.
"É importante preservar a história de vida do meu pai e de tudo que ele construiu com a fotografia. Começamos a organizar o espaço há uns 10 anos, pois as peças têm seu valor histórico e sempre vemos o interesse de jovens em relação às máquinas antigas", conta Afonsinho, fotógrafo profissional há 26 anos.
Afonsinho mantém minimuseu na loja da família há 10 anos
O casal Simosono e Mariangela tem mais dois filhos que seguiram a carreira médica, mas o próprio pai diz que todos seus filhos são fotógrafos pela aprendizado na família. O Simosono octagenário nasceu no Brasil, sendo considerado nissei por ser filho de pais japoneses.
O pai dele, Seizo Simosono, chegou ao Brasil antes da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) e aqui conheceu outra japonesa, Tumiko, com quem se casou em São Paulo. A família mudou para Passos, onde Afonso Simosono nasceu em 1942.
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