top of page

CULTURA

bens-maq1.jpg

Memória: 5 bens culturais pouco lembrados em Passos

Reportagem e fotos: Keuly Vianney
n.noticiar@gmail.com

08/07/2023

whats-logo.png

Apesar de ostentar um patrimônio cultural municipal tombado e reconhecido pelo Instituto Estadual de Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha /MG), Passos possui outros bens culturais importantes em vários pontos da cidade que passam despercebidos pela população e não recebem a atenção necessária, gerando abandono e vandalismo. Confira 5 deles levantados pelo Noticiar.net nos últimos dois meses. 


Lembrá-los e mantê-los preservados é essencial neste momento, quando Passos completa seus 165 anos. Os 5 bens culturais listados pela reportagem possuem relevância para a cidade, seja do ponto de vista histórico ou cultural e de identidade e memória, sendo que alguns chegam a ter mais de 50 anos. São eles (por ordem alfabética):
*Cristo Redentor, no bairro Jardim Planalto
*Máquina inglesa na Estação Cultura, no bairro Coimbras
*Monumento aos Pracinhas,  no centro 
*Monumento do Centenário, no centro
*Obelisco azul, no bairro Carmelo

Todos os 5 bens estão bem conservados, mas também já foram alvo da ação de vândalos. Muitos deles estão pichados, sem suas placas de inauguração e identificação, partes destruídas ou ainda sem receber reparos de manutenção ao longo dos últimos anos. Abaixo, leia informações apuradas pela reportagem: 

bens-cristo4.jpg

Cristo Redentor 
Situação do bem:
Passos também possui um Cristo Redentor abençoando a sua terra. A imagem de 9m de altura fica numa praça no bairro Jardim Planalto e encontra-se em bom estado de conservação, garantindo uma boa vista da cidade. 

 

Entretanto, as duas placas com informações sobre a obra, que constam em fotos antigas, foram retiradas e há pichação na parte de sustentação. O acesso aos pés do Cristo é pela parte de trás da imagem, que está toda pintada de branco. 

Cristo fica na parte alta da cidade com 12m, sendo 9m de altura e 3m de aterro

bens-cristo5.jpg

História: inaugurado em 9 de junho de 1996 durante o encerramento das Missões Redentoristas em Passos, o Cristo foi adquirido no primeiro mandato do prefeito José Hernani Silveira (1942-2016) como imagem pré-fabricada. Na época, as partes foram concretadas num processo cuidadoso para que não quebrassem. 


O bairro foi escolhido porque estava na parte alta da cidade, sendo a imagem instalada num aterro de 3m a fim de que o Cristo tomasse uma altura ainda maior. De início, a ideia era transformar o local em atração turística e, para tanto, seria necessário um projeto paisagístico na área, o qual se concretizou com a construção da praça.

bens-cristo-anda.jpg

Funcionários da prefeitura trabalhando na instalação e concretagem das partes do Cristo em 1996 / Foto: Reprodução

Cerca de 20 mil pessoas participaram da bênção e inauguração do Cristo em 1996, mas a visitação de turistas não acompanhou esses números nos anos seguintes.  


Endereço: confluência entre as ruas das Missões, Jaraguá e Anápolis, no Jardim Planalto 

bens-maquina8.jpg

Máquina inglesa na Estação Cultura
Situação do bem:
olhando de longe a área descampada da Estação Cultura, pode até parecer que Passos possui uma tirolesa ou algum vagão remanescente da antiga Estação Ferroviária da Cia Mogiana, inaugurada em 1921 e desativada na década de 1970 no município. Na verdade, trata-se de uma máquina inglesa usada para compactação de ruas da Passos antiga. 


De cor amarela, a máquina fica sem proteção alguma no descampado da Estação Cultura. Conforme o mato vai crescendo, costuma envolvê-la, principalmente nas laterais e na parte baixa, como a reportagem constatou há cerca de um mês ao visitar o local e antes da prefeitura limpar o terreno nas últimas semanas, após críticas de que o prédio tombado e a área da estação estavam abandonados. 

Pontos de ferrugem atacam a máquina, deteriorando o metal ao longo dos anos

bens-maquina7.jpg

Por ficar desprotegida ao ar livre, a máquina possui vários pontos enferrujados bem avançados, deteriorando o metal. Entretanto, ainda é possível ver a inscrição de fabricação por uma empresa de engenharia da Inglaterra. 

bens-maquina5.jpg

Inscrição da empresa da Inglaterra fabricante da máquina ainda permanece intacta

História: a máquina tem seu valor histórico por ser de uma época ligada ao desenvolvimento urbano da cidade. Na frente, é possível ver os rolos compressores usados para a pavimentação de ruas, sendo movida a vapor usando lenha. 


A reportagem não conseguiu identificar quando foi adquirida pela administração. Mas, é válida a hipótese de que a máquina tenha sido usada nos tempos de dois prefeitos que mais investiram nos calçamentos em Passos: Lourenço de Andrade (1888-1956), que governou a cidade em dois momentos: de 1926 a 1930 e de 1930 a 1945, e Geraldo da Silva Maia (1913-1959), prefeito eleito também em duas ocasiões: 1947 a 1950 e de 1954 a 1957. 

Uma das principais realizações de Lourenço de Andrade foi justamente viabilizar o asfaltamento em massa de concreto da rua Presidente Antonio Carlos, considerada a primeira via calçada da cidade, além de outras ruas centrais do município. Já Geraldo Maia tinha o progresso como lema e calçou quase toda a cidade à época.

 
Endereço: Rua Dr Sepúlveda, s/n, no bairro Coimbras

bens-maquina1.jpg

Rolos da parte frontal da máquina inglesa, que foi usada no asfaltamento da cidade

bens-pracinhas4.jpg

Monumento aos Pracinhas
Situação do bem: o monumento é simples, com pouco mais de 1m50 e está com a estrutura conservada e dividida em três partes, mantendo pintura branca. A placa com os nomes dos combatentes continua afixada ao bem: Jony Pimenta de Vasconcelos, Jorge Jabur, Geraldo Silvério de Almeida, Antonio Formágio Sobrinho, Djalma Bordezan, João Lemos Filho, Alfredo Lemos de Vasconcelos, Lauro Sawaya e Maurício Gomes de Pádua. 


Na parte de baixo da placa, está a frase: "Os bravos expedicionários que lutaram em nome do Brasil, de Minas e de Passos, pela liberdade dos povos. Passos, 14 de maio de 1958". 

Porém, um outro detalhe que dava o diferencial à construção histórica e ficava acima da placa, a imagem de uma cobra fumando, já não existe mais. O desenho, que pode ser visto em fotos antigas do monumento, se refere à expressão "a cobra vai fumar", surgida no final de 1944 durante a guerra. 


Conforme o Memorial da Democracia, a expressão teria surgido num momento em que não se acreditava na entrada do Brasil no conflito mundial. Na época, se dizia: "É mais fácil uma cobra fumar do que o Brasil entrar na Guerra". 

História: durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), Passos enviou nove jovens para as trincheiras do conflito na Europa, de onde eles retornaram sãos e salvos. Para homenageá-los, em 1958, na gestão do então prefeito José Mendes Júnior, foi construído um monumento no centro da cidade, mais precisamente ao lado direito da escadaria em frente ao prédio do antigo Fórum, hoje sede do Palácio da Cultura. 


O Brasil declarou guerra aos países do Eixo, liderados pelo alemão Adolf Hitler (1889-1945), em 31 de agosto de 1942, em resposta ao suposto ataque dos submarinos alemães a navios brasileiros. Em 1944, o país convocou jovens para comporem a Força Expedicionária Brasileira (FEB) e os passenses não escaparam da chamada militar, pois integravam o Regimento de Infantaria de São João Del Rey (MG), onde os rapazes eram treinados. 

bens-pracinhas1.jpg

Placa com o nome dos combatentes passenses que foram para Segunda Guerra Mundial

Vista geral do monumento aos pracinhas na Praça do Rosário 

bens-pracinhas2.jpg

A guerra terminou em julho de 1945, mas os passenses só retornaram a Passos quatro meses depois, sendo recebidos com festa no centro da cidade. As homenagens não pararam: a rua Primeira Chapada foi rebatizada como Avenida dos Expedicionários e 13 anos depois, foi inaugurado o monumento na Praça do Rosário.   


Durante o tempo de vida na cidade, os pracinhas, como também eram chamados, sempre foram lembrados em eventos militares e civis.  


Endereço: Praça Geraldo da Silva Maia (do Rosário), em frente ao Palácio da Cultura

bens-triangulo.jpg

Monumento do Centenário
Situação do bem:
o Monumento do Centenário completa 65 anos em 2023, sendo reconstruído em formato piramidal e revestido de granito branco. Hoje, encontra-se em bom estado de conservação, embora esteja bem sujo, misturando cores amareladas e cinzentas, já que fica sob sol e chuva, necessitando de uma bela limpeza para recobrar sua tonalidade e beleza originais. 


Todas as placas afixadas no monumento foram mantidas, incluindo a da inauguração lembrando os 100 anos de elevação da Vila Senhor Bom Jesus de Passos à cidade (1858-1958) na face principal com os dizeres: "Passos com as bênçãos de Deus e o trabalho de seu povo no seu primeiro centenário". 

A homenagem também eternizou os nomes de políticos da época, como o presidente da República Juscelino Kubstichek de Oliveira (1902-1976); governador do Estado de Minas Gerais José Francisco Bias Fortes (1891-1971) e o próprio prefeito municipal Geraldo Maia. 

Mais duas placas foram afixadas ao monumento na face à esquerda: uma redonda com alusão ao prefeito Lourenço de Andrade com a data de 29 de dezembro de 1934, e uma outra retangular referente às conquistas urbanas do município, datada de 1927-1934.  

bens-triangulo1.jpg

Placas da inauguração do monumento em 1958 pelo prefeito Geraldo Maia (acima) e das conquistas urbanas de várias épocas da cidade

bens-triangulo2.jpg

História: o monumento é um marco nas comemorações dos 100 anos de Passos aos 14 de maio de 1958, sendo inaugurado pelo prefeito Geraldo da Silva Maia. Entretanto, uma curiosidade foi levantada pelo historiador passense Norival Barbosa, o qual foi diretor municipal de cultura nos anos 2000. Ele informou que o atual bem municipal não é o original, pois foi reconstruído na gestão do prefeito José Figueiredo (1913-1999). 


De acordo com Norival, em 1958 o monumento foi instalado na praça um pouco à frente de onde fica atualmente e em formato diferente. Já na década de 1970, a fim de construir o coreto na praça, o  então prefeito Figueiredo deslocou-o para o local onde se encontra hoje, mais próximo à calçada, com uma construção maior em altura e em forma de pirâmide, a qual possui estrutura de ferro e revestimento de granito. Naquele momento, as placas comemorativas também foram afixadas ao bem, permanecendo até hoje.     


Endereço: Praça Monsenhor Messias Bragança (da Matriz), ao lado do coreto

bens-obelisco2.jpg

Obelisco azul
Situação do bem:
monumento é desconhecido para a grande maioria da população passense e fica na praça do Carmelo, paralela à Rua Barão de Passos, na altura dos muros do Carmelo São José. A estrutura se mantém íntegra, embora esteja com pichações, com a ponta destruída e sem a  placa de identificação, a qual teria informações sobre ano de inauguração e prefeito responsável. 

História:  praça é considerada importante no processo urbano de Passos, pois é um marco divisório do surgimento de um dos maiores bairros da cidade, o Bela Vista, como informou à reportagem o professor José Reis Santos, um pesquisador da história e cultura passense. Ele lembrou que o próprio Carmelo se instalou na região em 1955, saindo do centro. 

Num primeiro momento, o obelisco era de concreto e não se sabe quando foi pintado pela primeira vez. Por isso, acredita-se que tonalidade azul é de um tempo mais recente. Dos bens culturais levantados pela reportagem, este é o que mais carece de informações. 


Endereço: confluências das ruas Alagoas, Ipê e São Marcos, no bairro Carmelo

VEJA MAIS

fonte-matriz.jpg
casa-fachada3.jpg
mauricio.jpg
bottom of page