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Setor hoteleiro de Capitólio está com boa expectativa para próximos meses

Empresários apostam em retomada forte no segundo semestre

Reportagem: Keuly Vianney
Fotos: Aluísio de Souza
n.noticiar@gmail.com
31/07/2022 - Atualizada em 01/08/2022

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Apesar das consequências do acidente de janeiro para a economia de Capitólio, donos de hotéis e restaurantes da cidade se dizem otimistas com a retomada gradual e acreditam que os próximos meses vão trazer de volta os turistas, principalmente a partir de agosto e setembro. Os empresários, que ainda amargam queda no turismo nos últimos meses devido à baixa temporada do inverno, vêm apostando em campanhas para impulsionar o setor.


Comandando um dos maiores hotéis de Capitólio, um balneário localizado às margens da rodovia MG-050, o empresário Antonio Carlos de Melo viu as reservas despencarem logo após o acidente nos cânions. Com 60 apartamentos para atender a cerca de 250 hóspedes, o hotel costumava ficar lotado na alta temporada desde que abriu as portas, em 2005.

"Mesmo durante a pandemia, mantivemos uma boa média de hóspedes, e no último réveillon chegamos a 95% de reservas. Após o acidente, elas caíram 80% e tivemos que devolver muito dinheiro com os cancelamentos", lembra.

Em fevereiro, um mês após a tragédia, o hotel contabilizou apenas 20% das reservas disponíveis e, por isso, precisou reduzir despesas e readequar o quadro de funcionários, passando de 60 para 48 empregados. O empreendimento só se manteve aberto porque o empresário usou reserva financeira.

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Empresário Melo administra balneário e está otimista com setor hoteleiro da cidade

"Nunca passou pela minha cabeça fechar o balneário. Meu plano era usar a reserva para ampliar o hotel com novos quartos e investir em energia solar para dar mais sustentabilidade ao balneário, mas com o acidente ficou impossível. Foi um momento de reavaliar o planejamento do negócio", explica  Melo, que nasceu em Capitólio, mas fez carreira na área de produtos químicos em São Paulo, antes de voltar à cidade.  


O empresário aposta que a ocupação do hotel chegue a pelo menos 60% em setembro: "Nossa expectativa é boa porque estamos trabalhando coletivamente e profissionalmente para reestruturar o turismo na região. O impacto da tragédia é indiscutível, mas acredito que a pandemia e a crise econômica do país foram piores para o turismo do que o próprio acidente."

Pousada
Outros empresários do ramo hoteleiro que ainda tentam se recuperar do impacto da tragédia são os irmãos Vitor Vasconcelos e Bruno Rodrigues, que abriram uma pousada voltada para casais em Escarpas do Lago em janeiro de 2019.

O negócio começou com apenas quatro acomodações num imóvel da própria família. O turismo promissor de Capitólio impulsionou a pousada e, em apenas dois anos, os proprietários já somavam 18 acomodações, com ocupação de até 95%, mesmo com a pandemia.  

"No mês do acidente, tivemos uma queda nas reservas superior a 90%, com cancelamentos e devolução de dinheiro para os hóspedes. Só em março tivemos um esboço de 20% de melhora e em abril, de 40%", contam.


Com a queda no número de hóspedes, a pousada passou de 15 para oito funcionários e precisou recorrer a empréstimo bancário para manter os planos de ampliação para 25 quartos. "Nossa expectativa é de que, a partir e agosto, a retomada seja boa, para voltarmos a investir e recontratar”, dizem.

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Gerente Bruno Rodrigues na área da piscina da pousada; retomada é esperada em agosto

Restaurante na praia artificial
O acidente também atingiu em cheio o ramo gastronômico. E quem sofreu bastante foram os companheiros Diego Zaparoli e Thalles Santos, donos de um dos restaurantes mais badalados na praia artificial de Capitólio.


"Antes, chegávamos a preparar 300 pratos por dia. Com o acidente, tivemos uma queda de 95% em janeiro. O impacto foi gigantesco já no dia do acidente, pois o restaurante estava muito movimentado e começou um burburinho no salão. Ninguém estava entendendo o que tinha acontecido nos cânions", conta o chef Diego.


Da data da tragédia até março, ele conta, foram 70 dias trabalhando com pouquíssimos clientes e pedidos. A sorte é que a dupla tinha garantido um financiamento em 2020 para abrir o restaurante e a reserva foi usada para pagar as contas.

Chef Diego passou por dificuldades para manter restaurante junto com companheiro Thalles

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Diego e Thalles estão no ramo desde 2018, quando começaram a trabalhar num trailer. Três meses depois, abriram uma tenda que vendia porções de comida e bebidas. Acreditando no potencial turístico de Capitólio, em maio de 2019 inauguraram um bar pequeno, até investirem no restaurante especializado em gastronomia regional.


"Nem a pandemia segurou Capitólio e tivemos um grande crescimento antes do acidente. Graças a isso, sobrevivemos com as nossas economias e com os poucos atendimentos que fizemos. Aguentamos aos trancos e barrancos, nos equilibramos financeiramente, pagamos todos os fornecedores e funcionários, mas não tivemos lucro", afirma o chef.

Uma melhora considerável no número de clientes no restaurante só aconteceu a partir de março, mas a expectativa do chef é voltar ao padrão anterior ao acidente a partir de agosto. "Para mim, o episódio dos cânions foi a fase mais difícil do turismo de Capitólio. Nem a pandemia causou tanto impacto negativo, pois a tragédia foi tratada de forma muito tendenciosa e negativa", critica Diego.

União e campanha fomentam turismo sustentável

Diferentes setores de Capitólio, no Sul de Minas, decidiram se engajar para tentar revitalizar o turismo na região. Seis meses após o acidente que deixou 10 mortos e 32 feridos nos cânions do Lago de Furnas, a cidade ainda não recuperou o fluxo de visitantes anterior à tragédia. Por isso, a Associação de Empresários de Turismo de Capitólio (Ascatur) vem promovendo ações integradas para melhorar seus serviços enquanto a campanha Capitólio em Movimento, lançada em março, trabalha para divulgar e promover atrativos da região.


O empresário Vitor Vasconcelos, um dos diretores da Ascatur e representante do Capitólio em Movimento, explica a campanha no áudio abaixo:

Capitólio tem mais de 30 atrações turísticas além dos cânions, incluindo cachoeiras, restaurantes de comida tradicional mineira, circuito de turismo rural e de aventura, a ainda um calendário de eventos. Confira mais informações na galeria de fotos abaixo (clique nas imagens para ler a legenda):

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Vitor, que é engenheiro, morou e trabalhou em São Paulo por cerca de 10 anos e largou a cidade para investir no turismo de Capitólio, diz que o acidente trouxe muitas dificuldades, mas também aprendizado. "Acho que demoraria muitos anos para alcançar a evolução que estamos vivendo hoje em termos de gestão, capacitação, foco e visão empresarial turística”, diz, lembrando que até concorrentes estão procurando soluções conjuntas.

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Número de associados da Ascatur, que atuam nos setores de hospedagem, gastronomia, atrativos, passeios e serviços turísticos em Capitólio

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A presidente da Ascatur, Elizângela Alves Costa Gini, conta que a associação tem promovido ações em conjunto com o poder público em busca de um turismo mais sustentável, incluindo cursos de capacitação para profissionais da área e a criação de eventos que atraiam público em diferentes momentos do ano.“Capitólio é o epicentro do turismo na região, e estamos nos unindo para ficarmos mais fortes e estruturados”, diz.

Um dos atrativos de grande procura é o Mirante Escondido, no Parque Myrante dos Cânions, que dá acesso de frente aos imensos paredões de Furnas em plataforma vazada (veja vídeo). 

O chef Diego Zaparoli também aposta nas ações conjuntas para a retomada do turismo local o mais breve possível. "Acredito que vamos conseguir fomentar o turismo com responsabilidade e segurança. E, com a ajuda dos eventos, desmistificar a região depois do acidente, que foi uma fatalidade e nos impactou imensamente, não só na economia, mas também psicologicamente", diz.

 
Para Antonio Carlos de Melo, diretor de um hotel da região, esta é a hora ideal de divulgar as mudanças na cidade, reforçando as preocupações com segurança e estrutura: "Temos que nos adaptar aos novos tempos. O impacto do acidente nos levou a mudanças maiores, como a busca pela profissionalização."

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Esta série de reportagens é uma produção independente, realizada entre maio e julho de 2022, por meio do programa Acelerando a Transformação Digital, iniciativa do International Center For Journalists (ICFJ) e Meta Journalism Project, dos Estados Unidos, e da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji). 

Ficha técnica: 
Reportagem e produção:
Keuly Vianney

Edição e mentoria: Fátima Sá
Fotografias: Aluísio de Souza
Webdesigner: Flávia Ribeiro

Consultant ICFJ: Bruna Borjaille 
Programa Manager ICFJ: Alison Grausam

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