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Divulgação

LITERATURA

Em autobiografia, professor resgata memórias de Passos

Reportagem: Keuly Vianney
n.noticiar@gmail.com
14/09/2022

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Aos 83 anos, o professor e advogado Jairo Roberto da Silva lançou no início deste mês seu livro autobiográfico "Escolhas de uma longa vida", que está à venda em Passos e com renda revertida para a Associação Servirás, onde funciona a Creche Dolores Queiroz, no bairro Coimbras. 


A vida desta figura pública passense se confunde, de certa forma, com muitos fatos relevantes da história da cidade, principalmente na área de educação e ações sociais entre os anos de 1960 e 2000. Ele sempre esteve envolvido na criação de instituições importantes no desenvolvimento social de Passos, incluindo a Fundação do Ensino Superior de Passos (Fesp), que se transformou no campus da Universidade Estadual de Minas Gerais (Uemg), com ensino superior gratuito. 

Líder por natureza, Jairo Roberto foi o primeiro negro a ocupar o cargo de vereador na Câmara de Passos, abrindo portas para as gerações futuras. Além disso, esteve ligado a entidades assistenciais que exercem uma papel fundamental na vida de crianças e jovens.

 
Leia entrevista abaixo sobre o lançamento do livro e os fatos que marcaram a  vida deste professor que dedicou grande parte de sua vida para a melhoria das condições sociais da população de Passos. Ele também fala sobre discriminação e racismo estrutural. 

Noticiar: A proposta do livro "Escolhas de uma longa vida" é ser autobiográfico?
Jairo Roberto:
A proposta principal do livro é o resgate da memória, especialmente em relação ao ensino superior em Passos, atividade exercida pela Fesp, base para a existência, hoje, da Uemg, que possibilita ao alunado carente o ensino gratuito. Em certo sentido, o livro é autobiográfico, sim. Ele inclui a história de minha pequena e grande família, bem como minha atividade política e social.

Noticiar: Qual período o livro compreende? 
Jairo Roberto:
Inicia-se em 1954, nos meus 15 anos com a conquista do campeonato amador de futebol pelo Caram Esporte Clube. Prossegue com a minha admissão na fundação  da Faculdade de Filosofia de Passos em 1965 e após a estadualização da Fesp, em 2014, com o exercício de ações políticas para evitar a venda da área destinada à implantação do campus da Fesp/Uemg, adquirida na minha segunda gestão como presidente do Conselho Curador da Fesp (2000-2004). 

Noticiar: Quais as principais passagens de sua vida citadas no livro? Essas passagens se confundem com fatos da história de Passos?

Jairo Roberto: Relaciono as principais passagens que impactaram minha vida e me prepararam para as ações político-sociais em prol da nossa cidade, começando no meu primeiro emprego aos 14 anos no escritório de contabilidade; meu casamento com Maria do Rosário em 1960; minha admissão como professor da Escola Técnica de Comércio São José em 1960 e criação e exercício da presidência da Associação dos Contabilistas de Passos em 1968, posteriormente transformada em Sindicato dos Contabilistas de Passos. Fui vereador no período de 1971-1972, 1983-1988, 1989-1992, sendo que em 1990 relatei a Lei Orgânica do Município que está em vigor até hoje.

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Vereador Jairo Roberto ganhou homenagem da Câmara de Passos: Sala do Plenarinho leva seu nome / Foto: Aluísio de Souza

Nas ações sociais, contribuí na instituição do Programa de Ações Comunitárias (PAC), que permitiu os convênios com a Reintegrar ligada aos deficientes físicos; com o Núcleo de Estudos Afro-brasileiros (Neab), possibilitando cessão de espaço, equipamentos e bolsas de estudos; criação do coral universitário, com destinação de bolsas de estudo aos participantes; convênio com Tribunal de Justiça (TJ-MG) para funcionamento do juizado especial de Pequenas Causas, embrião do atual juizado especial do TJ-MG em Passos; implantação da Defensoria Pública Municipal mediante bolsas de estudo aos estagiários e contratação de dois advogados pela prefeitura em 1993. E em 1966, criamos a Associação Servirás de Assistência Social, responsável pela edificação do prédio da Creche Dolores, inaugurada em 1985 e em atividade até os dias atuais, atendendo a uma clientela de 120 crianças de 6 meses a 3 anos de idade. No bairro Nossa Senhora de Lurdes, construímos um centro educacional, onde são mantidas atividades para crianças e adolescentes de 7 a 14 anos, como judô, jiu-jitsu, aulas de violão, pintura em tecido e artesanato, com uma frequência de 70 crianças e adolescentes.

Noticiar: A Fesp ocupou um lugar especial na vida do senhor. Quais principais momentos constam do livro?  
Jairo Roberto:
Lembro bem quando iniciei como tesoureiro na Fundação Faculdade de Filosofia de Passos (Fafipa) em 2 de julho 1965. Dali em diante, participei da criação e exercício da presidência da Associação Educacional de Passos em 1973, com a finalidade de criar a Faculdade de Engenharia de Passos, processo posteriormente incorporado pela Fafipa, possibilitando a transformação na Fundação de Ensino Superior de Passos. Em 1982, participei da criação da Faculdade de Enfermagem, ao lado de Mauro Ferreira da Silva e Manoel Beraldo Lemos. Já entre 1986 e 1988, exerci a presidência do Conselho Curador da Fesp, enquanto no período de 1995 a 1998 fui membro da comissão encarregada de criar a Faculdade de Direito. De 2000 a 2004, voltei a ser presidente do conselho e conseguimos implantar seis novos cursos superiores: serviço social, educação física, administração de empresas, nutrição, moda e comunicação social, incluindo jornalismo e publicidade. Naquela presidência, a Fesp adquiriu uma área na MG-050, num convênio com o DER (Departamento de Estradas de Rodagem) para obtenção de uma área 5 mil m² para construção do campus Fesp/Uemg, sendo que um quarto do terreno foi doado à Santa Casa de Misericórdia de Passos para implantação do projeto Cidade da Saúde e do Saber, pela gestão que me sucedeu. 

Noticiar: Como negro, o senhor já sofreu algum tipo de discriminação racial na sua trajetória de vida e que consta no livro? E como vê a questão do racismo estrutural atualmente na sociedade? 
Jairo Roberto:
Vou me reportar a uma pergunta feita pelo professor Esdras Azarias de Campos, que se encontra no nosso livro de memórias. Ele pergunta sobre esta questão da minha recepção no meio social, enquanto negro, se sofri alguma discriminação. Honestamente, respondi a ele o seguinte: pessoalmente, pelo menos de maneira ostensiva e direta, eu nunca senti nenhuma discriminação nas várias frentes em que atuei, quer como vereador por três mandatos, quer como presidente da Fesp durante dois mandatos, quer como diretor da Faculdade de Direito por quatro anos. Fui inclusive distinguido com o convite como paraninfo da primeira turma de bacharéis. E você sabe que esse relacionamento com alunos não é muito fácil. Quanto ao plano social, fui sócio-fundador do Clube Passense de Natação e fui convidado para participar do Passos Clube. A história diz que lá a questão do negro era muito séria, mesmo assim fui convidado para participar do quadro social e não aceitei por outras razões. Posso dizer a você com toda lealdade que não senti durante todo esse tempo da minha vida nenhuma discriminação. Com relação ao meus filhos, também não houve discriminação mais séria, mesmo considerando de forma velada. Ostensiva não, mas talvez velada possa ter havido alguma discriminação, mas que não exerceu nenhuma influência na nossa vida comunitária, familiar e pessoal. No meu entendimento, a questão racial é muito evidenciada atualmente, pois a televisão transmite isso todos os dias. O preconceito racial é uma realidade em nossa cidade, no nosso país e no mundo. É uma questão histórica. Nos Estados Unidos, a questão vem de muito longe e cito Mart Luther King Jr. (1929-1968). No caso do Brasil, a Lei Áurea (1888) não conseguiu colocar um termo nesse relacionamento entre pretos e brancos. Quer dizer, perdura até hoje. 

Noticiar: Era um sonho escrever o livro?
Jairo Roberto:
Toda a minha vida foi feita de sonhos. No texto de meu livro, eu me autodenomino um sonhador incorrigível e o livro é parte deste meu viver.

SERVIÇO
Autobiografia "Escolhas de uma longa vida", de Jairo Roberto da Silva, Passos, no Sul de Minas
. N° páginas: 335. Editora: Gráfica e Editora São Paulo. Preço: R$ 50,00. Onde pode ser adquirido: na sede da Associação Servirás, onde funciona a Creche Dolores Queiroz na Rua Campos Gerais, 899, bairro Coimbras para a qual será destinado a venda dos 500 volumes. Mais informações (035) 99843-4077.

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