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HISTÓRIA

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200 anos de independência: 
conheça a
"Passos Imperial"

Reportagem e fotos: Keuly Vianney
n.noticiar@gmail.com
06/09/2022

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Com a celebração do bicentenário da independência do Brasil, comemorado neste 7 de setembro, vem à tona as memórias daquele período em que o país era governado pela família real portuguesa. Pode-se dizer que ainda existe a "Passos Imperial", pouco conhecida da população, mas a qual pode ser descoberta por meio de documentos, referências e peças históricas da época antes da proclamação da República em 1889. 


Algumas cidades surgidas no Império ainda guardam resquícios da época em que o país era governado pelos imperadores Dom Pedro I (1798-1834) e Dom Pedro II (1825-1891), como no caso de Passos, que começou ser povoada no início do século 19 na região Sul de Minas, no chamado Sertões do Jacuí.  

No ano da independência, em 1822, Passos ainda estava no processo de povoamento, como explica a professora de história Leila Suhaldonik Andrade, pesquisadora do livro História da Nossa Gente, especial de 150 anos de Passos, publicado em 2008. "Quando o Brasil ficou independente, era uma época em que estava iniciando o povoamento na região e não havia muitas referências. Passos não nem era considerado Arraial e nem tinha juiz de paz, o que aconteceu em 1831, no período das regências", diz. 


Em 1840, houve a criação da paróquia Senhor Bom Jesus dos Passos e oito anos depois, o Arraial foi elevado à Vila Formosa do Senhor Bom Jesus dos Passos. A elevação de Vila à cidade ocorreu aos 14 de maio de 1858, desenvolvendo todo processo político, administrativo, econômico e social durante o império. 

Nesse período, os moradores de Passos acompanharam o progresso da cidade, principalmente no centro, onde praças e casarões com muitas janelas na frente foram erguidas mostrando a riqueza dos fazendeiros. Fato que viria influenciar drasticamente a vida dos moradores nas próximas décadas até a Proclamação da República, em 1889 e a entrada do século 20. 

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Passos em 1880 nos tempos do Império; foto é considerada a mais antiga da cidade sem identificação do autor / Foto: Reprodução

Atualmente, a cidade possui apenas uma construção bem preservada daquela época imperial. Por outro lado, existem muito documentos, bens municipais alusivos e peças de família que guardam alguma lembrança de quando o país era governado pelos imperadores Dom Pedro I e II, filho e neto, respectivamente, de Dom João VI (1767-1826) e Carlota Joaquina de Bourbon (1785-1826). Veja alguns locais onde ainda existe a Passos Imperial:  

No Palácio da Cultura
Um rico acervo de documentos do século 19 é guardado no Palácio da Cultura, como bem tombado pelo Conselho do Patrimônio Histórico e Cultural de Passos desde 2007 e reconhecido pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha-MG). A documentação histórica, como livro de tombo, inclui material de grande relevância aberto para pesquisa, como processos judiciais e inventários resgatados do Fórum da época imperial, todos escritos à mão e em caneta bico de pena. 

Um dos documentos mais antigos é um inventário datado de 1816, seis anos antes da independência em 1822, como informou funcionário do espaço a pedido da reportagem (veja foto abaixo).


No acervo, também constam os processos de um dos episódios mais marcantes da história de Passos: a matança do Fórum, de 1909, que serviu de inspiração para o romance Chapadão do Bugre (1965), do escritor Mário Palmério (1916-1996), e de minissérie homônima da TV Bandeirantes filmada na cidade na década de 1980. 

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Duas primerias páginas do Inventário de 1816, um dos documentos mais antigos no acervo do Palácio da Cultura / Foto: Reprodução

Os documentos ficavam na Estação Cultura, mas foram transferidos para o Palácio da Cultura para melhor preservação. Na catalogação efetuada após 1994, o acervo somou mais de 2,7 mil processos. 


Para ter acesso à pesquisa, é preciso agendar dia e horário com o Conselho do Patrimônio Histórico Cultural de Passos. Mais informações no Palácio da Cultura, que fica na praça Geraldo da Silva Maia (do Rosário) ou pelo telefone (35) 3522-7050. 

Memorial da Câmara possui atas e resoluções históricas de 1850 / Foto: Aluísio de Souza

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Na Câmara de Passos
Atas e leis imperiais, manuscritas em caneta de bico de pena, também podem ser vistas no Memorial da Câmara José Eustáquio do Nascimento, inaugurado em 2016. Instalado próximo à entrada do plenário, o espaço visa salvaguardar a memória do legislativo desde a época em que a Câmara começou a funcionar na cidade, em 1850. 


No acervo, estão os livros de atas das primeiras reuniões legislativas no período imperial, como da reunião de 9 de setembro de 1850, quando os vereadores discutiram assuntos internos e administrativos. 

Já a histórica ata de instalação da Câmara da Vila do Senhor Bom Jesus dos Passos, de 7 de setembro de 1850, escrita pelo secretário Barão de Passos (1814-1897), pertence ao acervo de livros de tombo do Palácio da Cultura. 

O primeiro presidente da Câmara de Passos, José Caetano Machado, recebeu do Império o título de Cavaleiro da Ordem de Cristo. Naquele contexto político, não existia a figura de prefeito, sendo o cargo de mandatário do executivo exercido pelo presidente do legislativo. A carta imperial concedendo a honraria consta do livro "150 anos da Câmara de Passos", escrito por Antonio Grilo em 1998, quando a instituição completou 150 anos de existência. 

Este livro conta muito como era a vida social, política e econômica de Passos nos tempos do imperador e também está disponível para consulta no prédio da Câmara, que fica na avenida Paulo Esper Pimenta, 151, no bairro Coimbras. Mais informações pelo telefone (35) 3521-9111. Em 2020, a Câmara lançou um e-book com a história de 170 anos do legislativo, no qual também  é possível pesquisar sobre este período imperial e o republicano (baixe aqui). 

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Carta Imperial concedendo título de Cavaleiro da Ordem de Cristo a José Caetano Machado / Reprodução

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Condecorações pleiteadas pela Câmara de Passos ao Império: Ordem da Rosa e Ordem de Cristo; documentos não confirmam se foram concedidas / Fotos: Reprodução

Na Casa da Cultura
O local que abriga a Secretaria de Educação e a Biblioteca Municipal não possui nenhum documento relativo à época imperial para os mais despercebidos. Porém, lá está o quadro de José Caetano Machado, o primeiro presidente da Câmara da Vila Formosa do Senhor dos Passos em 1850. 


O quadro fica na Sala de Estudos e pertence ao patrimônio municipal. A pintura é assinada por J.J. Fonseca, mas sem data de quando foi pintado e outras referências históricas. Colorida, a obra é escura, mas é possível perceber as vestimentas de um período em que o Brasil era governado pelo imperador Dom Pedro II. 


A Casa da Cultura fica na praça Geraldo da Silva Maia s/n e funciona de segunda à sexta-feira das 8h às 17h.  

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Quadro do primeiro presidente da Câmara de Passos, empossado em 1850, fica na Casa da Cultura 

Capela da Penha foi   construída entre 1863 e 1864, durante governo de Dom Pedro II 

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Na Capela Centenária da Penha
A construção mais antiga de Passos, a Capela Centenária da Penha, foi construída entre os anos de 1863 e 1864, em pleno Império de Dom Pedro II. De estilo colonial e eclético, é um dos principais bens culturais da cidade, sendo tombada pelo Conselho do Patrimônio Histórico Cultural de Passos em 1998, com reconhecimento do Iepha-MG. 


É um dos poucos exemplares de arquitetura octogonal do Brasil, sendo construída para pagar promessa à Nossa Senhora da Penha pela família Lolou e com ajuda da comunidade. A capela ainda mantém sua essência por se tratar de bem tombado.   

É a única obra em bom estado de conservação em Passos erguida no período imperial. E você pode se perguntar: mas, e a igreja da Matriz Senhor Bom Jesus dos Passos, que é mais antiga do que a própria cidade? A paróquia foi criada em 1840, quando se construiu uma capela, ou seja 18 anos antes da Vila de Passos se elevar à cidade. 


Com o tempo, essa capela foi sendo alterada junto com o crescimento da cidade. Uma grande reforma ocorreu na década de 1930, desconfigurando a primeira construção da época do Império e a transformando na Igreja Matriz conhecida nos dias de hoje. 


Passos teve outras duas igrejas que começaram a ser construídas em meados do século 19, nos tempos do Império: Igreja de Nossa Senhora do Rosário (1852) e Igreja de Santo Antonio (1855), que, infelizmente, foram demolidas para dar lugar a outras obras sem caráter religioso. 

Peças de família
Poucas pessoas em Passos têm o privilégio de possuir peças da época do Império. O professor Eurípedes Gaspar de Almeida possui uma raridade em casa: uma espada com o emblema imperial, pertencente a militares da época. Conforme ele, herdou o artigo do pai, o maestro Abiud de Almeida, que também a recebeu do avô, mas o folclorista não sabe precisar a data. 


A espada é sempre usada pelo professor nas suas atividades do folclore, pois ele é figura de alta patente no Reinado e Reisado de Passos há muitas décadas. 

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Emblema imperial na espada pertencente à família Almeida 

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Moeda data de 1886; família passense guarda com cuidado peça de prata 

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Uma outra família passense possui moedas do final do século 19 e início do 20, sendo uma delas a mais especial, com o brasão e inscrição "Império do Brazil" (com z mesmo), datada de 1886, período final do Império de Dom Pedro II.


A moeda de 50 réis está um pouco desgastada e sofreu uma avaria em uma das faces, mas ainda dá para ver perfeitamente as inscrições. Num dos lados, está grafado: "Decreto Nº 1817 de 5 de Setembro de 1870". A família guarda com cuidado a preciosa peça de prata.

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