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CULTURA

Fotos: Divulgação Aprocan

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Crianças aprendem a produzir queijo Canastra para manter tradição cultural 

Reportagem: Keuly Vianney
n.noticiar@gmail.com
11/10/2023

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Criança que é criança gosta de brincar. Na região da Serra da Canastra, elas gostam mesmo é de aprender a produzir o legítimo queijo Canastra, considerado um dos melhores do mundo. O aprendizado é nas escolas com os alunos sendo incentivados a produzir a iguaria para  manter a tradição e cultura secular da produção artesanal realizada somente no Sul e Centro-Oeste de Minas Gerais. 


O projeto "Queijo na Escola" foi implantado pela Associação dos Produtores de Queijo Canastra (Aprocan) em 2021 ao encampar a ideia da Cooperativa Educacional Sicoob Sarom (CES), em parceria com o Sicoob Sarom, de São Roque de Minas. Por enquanto,  já atendeu cerca de 100 alunos de 3 a 17 anos do maternal e dos ensinos médio e fundamental de escolas da cidade, considerada berço da produção do queijo Canastra, feito artesanalmente a partir do leite cru. 


"A Aprocan sempre se preocupou em manter a cultura da Canastra e promover a capacitação dos produtores de queijo da região para dar mais qualidade à produção. Ao encampar o Queijo na Escola, vimos a possibilidade de levar às crianças como é a produção do queijo da forma correta, seguindo os parâmetros sanitários e as boas práticas de higiene, valorizando o Canastra", explica a coordenadora de ensino e laboratório da Aprocan, Valéria Vânia Rodrigues, de 40 anos. 

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Foto: Aluísio de Souza

 MELHOR DO MUNDO - Nos últimos anos, o queijo Canastra ganhou notoriedade mundial, vencendo concursos na França e sendo eleito um dos melhores do mundo em 2022 pelo Site Taste Atlas, dos Estados Unidos. 

 

Para ser considerado autêntico, o queijo só é produzido em sete cidades com Indicação Geográfica (IG) da Canastra: São Roque de Minas, Vargem Bonita, Delfinópolis, Medeiros, Tapiraí, Piumhi e Bambuí, região onde forma o chamado terroir da iguaria. 

Os alunos aprendem sobre queijo em várias disciplinas na escola e visitam fazendas. Na hora de produzir a iguaria, vão para a queijaria da associação para colocar a mão na massa. Assim, vêem de perto como é a coagulação do leite, o uso do pingo, que dá a identidade ao Canastra, o corte, a mexedura, enformagem, como espremer a massa e, por fim, deixá-lo na maturação, que demora 14 dias, no mínimo.  

Aluno do 1º ano do ensino fundamental, Victor Alves Soares, de 6 anos, é um dos aprendizes mirins. Em setembro deste ano, ele participou do projeto e acompanhou todo o processo de feitio do queijo, desde a retirada do leite na fazenda até colocar a mão na massa, moldar a iguaria e deixá-la maturar na própria escola. 


Ele e os colegas produziram o queijo merendeiro, que possui formato menor em relação ao tradicional. "Todos os dias no final da aula, a gente ia na sala dos professores para olhar o queijo maturar. Gostei muito de fazer os queijos com os professores e meus colegas", diz o estudante.

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Victor, de 6 anos, gostou de produzir queijo com os colegas de sala

Victor, que mora em Vargem Bonita, mas estuda em São Roque de Minas, vem de família produtora de queijo Canastra. O bisavô produzia a iguaria, mas a atividade não foi seguida pelos descendentes. O pai do estudante, Luís Ricardo Silva Soares, 35 anos, é funcionário público e a mãe, Jhullianne Alves Ferreira, 31 anos, advogada. 
 

Desde pequeno, Victor teve contato com fazendas e observava os familiares fazendo queijos. "Eu já ajudei a fazer queijo na fazenda, mas não como aprendi na escola. O mais legal foi aprender a lavar bem as mãos, mexer a massa e colocar o queijo na forma com meus colegas", conta o garoto, que sonha em ser jogador de futebol. 
 

Para o pai de Victor, o projeto é responsável por resgatar e preservar uma tradição cultural. "Nossa família sempre incentivou o contato dele na fazenda. O projeto é muito importante para a região, pois o queijo Canastra é o nosso diamante", afirma Soares. 

João Gabriel, de 16 anos, considera que projeto valoriza queijo Canastra

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História
O estudante do 2º ano do ensino médio João Gabriel Santos Oliveira, de 16 anos, também participou do projeto neste ano. Na escola, aprendeu muito sobre a história e a importância do queijo Canastra. "O queijo é fundamental na cultura da nossa região, mas a população local não dá a importância que ele merece. Com o projeto, percebemos como o queijo é importante na nossa atividade econômica e cultural", diz. 

 

Conforme ele, tios e avôs ainda produzem queijo Canastra para venda e, desde criança, presencia a fabricação em família. No projeto, seu conhecimento foi além, principalmente nas disciplinas de química, biologia e história. 
 

"Aprendi muito sobre o cuidado e higiene na ordenha, os ingredientes de cada queijo e análises microbiológicas do leite. O processo de produção é mais profissional e ajuda na valorização do queijo Canastra", avalia o estudante, que não descarta trabalhar com queijos no futuro. 

"É muito lindo ver as crianças aprendendo sobre a cultura artesanal do Canastra. Elas estudam a evolução do queijo na história, na geografia, na biologia, na química, na gastronomia. É preciso que elas estudem nossa cultura e se apaixonem para que nos sucedam e invistam no queijo como atividade econômica", diz o produtor João Carlos Leite, de 58 anos, presidente da Associação Mineira do Queijo Artesanal (Amiqueijo) e do Sicoob em São Roque de Minas. 


Ele é um entusiasta do projeto, pois sua família trouxe a iguaria artesanal para a Canastra por volta de 1840. Ele conta que os antepassados investiram no queijo e, no seu tempo, continuou apostando na tradição queijeira na região, sendo um dos fundadores da Aprocan. 

Alcance
Além de São Roque de Minas, o projeto já chegou em Tapiraí, mas a proposta é alcançar outras cidades produtoras do Canastra num futuro próximo. Para tanto, a Aprocan investiu numa nova sede com 887 metros quadrados, inaugurada em 2019 e financiada pela Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codesvaf). A estrutura, onde são realizados cursos e eventos, possui quatro pavilhões e uma área dedicada ao projeto, incluindo a queijaria que é uma réplica daquela encontrada em fazendas produtoras de queijo. 


"O projeto não ficou só na escola. Trazemos as criança na sede para elas aproveitarem nossa estrutura e fazerem o queijo da forma correta. Queremos mostrar às crianças a importância do patrimônio cultural que elas têm nas mãos. Ainda hoje, muitos produtores resistem em mudar a forma antiga de produzir queijo sem qualidade e desvalorizado. E a única maneira de atingi-los é com as crianças", completa Valéria. 

De acordo com a coordenadora, a região da Canastra possui cerca de 800 produtores de queijo, mas apenas uma média de 70 é associada da Aprocan, que tem investido em cursos para dar alta qualidade à iguaria. Desde 2019, a associação também o selo de caseína para identificar os queijos legítimos e facilitar a identificação para os consumidores. 


"Para a maioria dos alunos, já é natural frequentar a roça, pois são filhos, netos de produtores. É muito bonito ver as crianças vestindo as roupas adequadas, descobrindo as práticas de higiene, colocando a mão na massa e fazendo os queijos. Eles ficam maravilhados e tudo é novidade", lembra Valéria. Veja abaixo fotos divulgadas pela Aprocan mostrando a felicidade das crianças na produção dos queijos: 

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Cianças na cozinha da Aprocan fazendo os queijos do modo correto 

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Ela destaca que o projeto envolve várias disciplinas nas escolas, como história, biologia, geografia e matemática. Na prática, além de colocar a mão na massa, também aparece o lado científico, pois as crianças aprendem sobre análise microbiológica do queijo, despertando para o papel do cientista na sociedade. 


"Queremos formar uma geração de produtores da região produzindo queijo com qualidade e mantendo a tradição e cultura da Canastra, dentro do controle sanitário e regularização do produto", finaliza Valéria. 

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