MEMÓRIA
Túmulo n° 1 do Cemitério de Passos: história e lembranças
Com o feriado do Dia de Finados, são lembrados os entes queridos que deixaram a vida na Terra. No entanto, há algumas curiosidades da data que chamam atenção e fazem parte da história e do imaginário popular, como no caso do primeiro túmulo do Cemitério Municipal de Passos. O jazigo pertence à família Antonio Caetano de Faria Lolou, o qual foi inaugurado em 1901, completando 120 anos em 2021 e confirmando sua importância histórica para a cidade.
Devido à sua relevância, o túmulo é um bem tombado pelo Conselho Municipal de Patrimônio Cultural de Passos desde 2011. Muitas vezes, passa despercebido de quem entra no Cemitério.
É o primeiro jazigo do campo santo e localiza-se do lado esquerdo da entrada principal do Cemitério Municipal de Passos. De cor em amarelo claro, tem estilo simples de linhas retas clássicas e encontra-se em aparente bom estado de conservação.
É um jazigo pequeno e a frente exibe um frontão, acompanhado de um triângulo na parte superior e uma cruz latina na ponta, estendendo-se seu corpo retangular embaixo até um outro frontão posterior, bem menor que o primeiro. Uma lápide em mármore informa sobre as pessoas ali sepultadas. As inscrições feitas na própria pedra registram o sepultamento de Antonio Lolou.
Localização do primeiro túmulo do Cemitério de Passos à esquerda; ao lado, a frente do jazigo da família Caetano
Conforme documentos do Conselho Municipal de Patrimônio Cultural, em 1893 o então cemitério de Passos já era considerado pequeno em relação ao crescimento da população na época. Políticos do Conselho Distrital determinaram a escolha de um local para ser construído um novo espaço para enterrar os mortos na cidade.
Nesse momento, aparece a figura de Antonio Caetano de Faria, apelidado de Lolou, que era proprietário de um pasto fechado na Fazenda Brandões, fora dos limites municipais, onde hoje se encontra a avenida JK, no bairro Vila Rica. Em 1894, o terreno já estava comprado pelo valor de 200 mil réis.
Há duas versões sobre a aquisição do terreno onde se estabeleceria a futura necrópole, suscitando curiosidades peculiares para a data. Na primeira, Lolou teria vendido o terreno para a prefeitura, exigindo o direito de construir um túmulo para seu jazigo perpétuo como condição de venda. O fato consta no livro 01 de registro de licença para construção de túmulos entre os anos 1894 e 1896.
A segunda versão, defendida pela família Caetano, é que a área onde hoje se encontra o Cemitério Municipal foi doada por Lolou sob a condição de ele ser o primeiro a ser enterrado no local. Um fato, no mínimo, curioso para a época.
Na frente e traseira do túmulo, foi esculpido triângulo em baixo relevo e a figura de dois ossos em X em alto relevo
Detalhe da lápide com o nome, data de nascimento e falecimento de Antonio Lolou
Entre 1901 e 1904, consta no relatório do então presidente da Câmara, coronel Joaquim Gomes de Souza Lemos, o traslado de restos mortais não reclamados do cemitério antigo para o novo na avenida JK.
Na lápide do túmulo n° 1 consta o falecimento de Lolou em 1894. Conforme registros documentais de tombamento, já foram sepultados no túmulo n° 1: Antonio Caetano Faria Lolou (1895), Espedito Vieira (1947), Purcina Conegundes (1952), Regina Cury Walimpense (1957), Antonio Caetano da Silva (1962), Matildes Inácio Silva (1972), Gaspar Caetano da Silva (1981) e Maria Expedita da Silva (1996).
Mas, a Funerária São Vicente de Paulo, hoje administradora do cemitério, não informa se os dados estão corretos, pois somente a família proprietária do jazigo pode solicitar esse tipo de informação.
O Cemitério Municipal já está com seu limite de 4 mil jazigos esgotados. Devido a esse problema, a Funerária São Vicente construiu outro necrotério, o Campo Santo Senhor dos Passos, inaugurado em 2011 na avenida Arlindo Figueiredo e com vida útil até o ano 3000.
O Cemitério Municipal de Passos funciona normalmente neste 2 de novembro, aberto para visitação das 7h às 18h.
Detalhe da lateral do túmulo n° 1 com vista para outros jazigos do Cemitério de Passos
Aposta de morte e Sucupira
Existe a versão de que Antonio Lolou desejava ser o primeiro morto a ser enterrado no cemitério. Lolou fazia piadas com os amigos sobre o fato, chegando até a apostar quem morreria primeiro.
Em 1973, um dos capítulos da novela O Bem Amado, de Dias Gomes, exibida pela primeira vez na TV brasileira naquele ano, tratou de um tema curioso relativo ao cemitério da fictícia Sucupira, muito semelhante à história propagada em Passos.
O prefeito Odorico Paraguaçu, personagem de Paulo Gracindo, elegeu-se com a promessa de construir o primeiro cemitério da cidade. Mas após a inauguração da necrópole, não houve falecimentos. No desespero, o prefeito provocava situações macabras e cômicas para cumprir sua promessa de campanha. No final, Odorico é assassinado por Zeca Diabo, vivido por Lima Duarte, finalmente inaugurando o cemitério.
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