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OPINIÃO

coronavírus

Covid-19 é praga?

Por Ailson Pereira

09/04/2021

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Etmologicamente, praga provém do grego plegma, cujo significado é ferida, surra, desgraça, etc, de onde podemos tirar algum entendimento sobre os fenômenos que afetam a humanidade de tempos em tempos. Alguns conceitos relacionados à palavra trazem a ideia do desejo de sofrimento de uma pessoa para outra(s).

 

Por outro lado, em terreno místico, a palavra ganha contornos de acontecimentos desastrosos, acidentes, calamidades produzidas por um Deus, para fazer com que a humanidade ou suas criaturas observem os mandamentos das leis divinas e se relacionem em harmonia uns com os outros. Esse episódio consta na Bíblia, livro Êxodo, como "As dez pragas do Egito". 

Conforme pesquisas feitas em matérias de revistas como Super Interessante, Veja, ou sites como Terra, Wikipédia, etc, existem duas correntes de entendimento a respeito desse assunto, no qual se situam a Teoria Natural e a Teoria Vulcânica, que em nosso limitado entendimento são a mesma coisa se vermos o fenômeno dos vulcões como uma ocorrência natural.

 

Quando escrevi que o termo praga se encontra em terreno místico, concluímos que esses acontecimentos se enquadram, de alguma forma, em relação à manifestação da divindade com seus poderes considerados por uma cadeia de homens que crêem em milagres ou coisas do gênero. 

Mas, e a pandemia da Covid-19 e o surto ou fenômeno pandêmico da gripe espanhola, no início do século passado, poderíamos chamar de praga?

Entende-se que, mais uma vez, nos  encontramos sob o espectro do dilema ou das teorias onde os homens em suas linhas de pensamentos e estudos descrevem esses fenômenos de acordo com suas tendências de crer com base, ou acreditar sem explicar. Estamos diante do que podemos classificar de fé raciocinada e da fé cega. Não pretendemos estabelecer posicionamentos sobre essa questão, embora já tenhamos uma opinião formada sobre a mesma.

 

Essa bifurcação de entendimentos é natural que ocorra porque a humanidade se encontra em diversidade de conhecimentos adquiridos pela experiência do dia a dia, pelas crenças religiosas que disseminam suas interpretações em torno dos fatos ocorridos ou das explicações provenientes de indivíduos que observam, analisam, acompanham, fazem experimentos e depois concluem suas idéias embasadas em estudos específicos.

As epidemias seriam também consideradas pragas da divindade em relação a uma determinada região? Se o que é considerado sob o emblema do coletivo como humanidade também será reconhecido sob os parâmetros de interferência em muitos lugares em consonância com a cultura e costumes do povo desse lugar. Portanto, às vezes a praga em diferentes áreas seja reconhecida como uma advertência da divindade. 

 

No Brasil, destacamos duas ocorrências que trouxeram muita preocupação quando em Belém (PA), no ano de 1748, aconteceu um surto de sarampo fazendo muitas mortes, e em 1849/1850, um surto de febre amarela no Rio de Janeiro deixando a população carioca com graves problemas. 

Num olhar mais amplo dentro do nosso país,  o índice de insalubridade sempre foi um acontecimento considerado natural, pela falta de empenho de políticas públicas que além da conscientização do povo, o Estado deveria trabalhar mais para que o país e seu povo não ficassem tão sem recursos na solução dessas doenças, que produzem problemas em escala gigantesca e os sistemas existentes terminam por sofrer as consequências desses desastres que ferem toda a sociedade.

 

Entretanto, vamos trazer essa questão para a nossa ótica interpretativa e tentar fazer uma varredura ou uma distinção entre as explicações de cada ala interessada em se postar ou estar com a verdade explicativa. Ponderemos, portanto, as afirmações de ambos os lados e de suas convicções. 

Considerando o fato de que o termo praga teve em um primeiro instante sido utilizado na Bíblia, conforme ensina o livro de Êxodo, temos por primícia que tal ocorrência fez com que o universo religioso assumisse uma espécie de posse relativa dessa terminologia, para que pudesse explicar, dentro da visão embasada na divindade, que todas as ocorrências ou quase todas se deviam ao descontentamento de Deus com suas criaturas.  

 

Em realidade, essa forma de entendimento prevalece até hoje em muitas linhas do pensamento religioso em muitas doutrinas. Mesmo que haja uma divisão semântica entre os termos praga e milagre, ainda assim, é possível a nosso ver, conciliar as duas palavras sob pontos opostos de interpretação e dentro da relação que ambas são reproduzidas dentro do universo religioso, onde a divindade, novamente no entendimento dos homens, é a responsável pelo surgimento dessas duas terminologias e seus efeitos ou consequências no terreno da saúde humana.

É o que chamamos de pontos conexos ou convergentes de identificações fáticas. Entendamos então que a praga e o milagre são de origem divina, na qual os defensores dos princípios religiosos se utilizam dessa terminologia para explicar os fenômenos que afetam a humanidade ou a organização fisiológica dos homens. 

 

Analisemos, por outro lado, a compreensão do termo praga, em que muitos classificam-o como algo ruim no meio humano sob a ótica da teoria científica. Quando qualquer fato ou fenômeno afeta o meio social humano, alterando a condição saudável das pessoas, passa esse indivíduo que está sofrendo essas alterações ir em busca de solução dentro da medicina. 

Algumas alterações da saúde afetam apenas o sujeito que se encontra doente naquele instante, outras vezes essa doença acaba por se expandir e afetar um grupo maior.

É o que se chama de contaminação coletiva, tendo como exemplo as síndromes gripais ou respiratórias como a Covid-19, que estamos sofrendo neste momento como pandemia. Outras síndromes vieram nos últimos anos afetar parte da humanidade, porém, os homens do universo científico, mediante estudos, observações e pesquisas aprofundadas, acabaram por meio desses estudos  a desvendar o mundo microscópico, mundo esse que o olho humano não consegue visualizar sem equipamentos apropriados e que são em verdade, segundo os cientistas, os verdadeiros responsáveis pelas inúmeras enfermidades que afetam os homens. 

 

Entretanto, é necessário aqui uma ressalva  de que a natureza ou o mundo biológico não se manifesta de forma agressiva no organismo humano sem que os homens possibilitem essa invasão. Relembramos aqui a questão das localidades insalubres, em que os residentes do local se encontram expostos a todo tipo de possibilidades invasivas por este mundo microscópico. 

O vírus da Covid-19 proveniente de terras chinesas encontrou o ambiente adequado em algum animal da fauna daquele país, tendo posteriormente de alguma forma passado a sua atividade viral para os homens, cujo mecanismo fisiológico é altamente propício ao seu processo reprodutivo denominado de replicação. Até o momento, são as explicações trazidas à luz da ciência e, ao mesmo tempo, procurando os recursos necessários dentro do esforço de pesquisas intensas à busca de conhecer o antídoto, ou como já aprendemos, o imunizante contra esse vírus.  

Concluindo, temos as duas bases interpretativas, porém resta saber qual o caminho deveríamos seguir para encontrar o equilíbrio que todos idealizamos. A pergunta que finaliza essas observações é: qual das duas versões é a mais lógica e a que mais responde com segurança a cada um de nós? A escolha é sua. 

É preciso ressaltar que nessas duas comparações não estamos a anular uma explicação ou depreciarmos  uma em detrimento da outra. Não significa também que estejamos alheios aos princípios do pensamento religioso, colocando de forma efetiva as explicações racionais de um lado e de outro recusando a existência de uma inteligência suprema criadora do universo. A própria ciência só aceita aquilo que ela pode constatar pelos meios materiais disponíveis e o pensamento metafísico fica recluso aos indivíduos dedicados às questões religiosas. 

 

O que objetivamos é fazer com que coloquemos os acontecimentos de qualquer natureza sob um olhar de naturalidade, desmistificando as idéias que nos levam a acreditar em supostos milagres ou pragas divinas. "Deus, inteligência suprema,  causa primária de todas as coisas, bom, justo, todo amor"! (Resposta da questão número 1, do Livro dos Espíritos. Que é Deus?). O bom, justo e todo amor é por nossa conta.

Que os homens da ciência aprofundem seus estudos e pesquisas e descubram quem é o autor da vida . Tenho certeza de que muitos deles são frequentadores assíduos de algumas religiões, assim como temos muitos religiosos que vivem dentro dos laboratórios de pesquisas e análises a propiciar descobertas do mundo micro para a sobrevivência da humanidade. Ciência e Religião ainda farão um grande casamento. O tempo dirá.

 

Ailson Pereira é de Passos (MG), bacharel em Direito pela Uemg e estudioso da doutrina espírita

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