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CULTURA 

Banda de Carnaval

Reportagem e fotos: Keuly Vianney
n.noticiar@gmail.com
09/02/2024

Foliões resgatam lembranças dos tempos áureos do Carnaval de Passos

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Passos, no Sul de Minas Gerais, já teve um tempo áureo do seu Carnaval, principalmente na década de 1980, com acirradas disputas de escolas de samba, carnavalescos e foliões. Para a maioria dos passenses, aquele momento continua vivo somente na memória, enquanto uma pequena parcela de pessoas ainda guarda lembranças concretas da festa popular, como fantasias e instrumentos de bateria de uma época vibrante da história da cidade. 


Por mais que seja fácil encontrar amantes saudosos daquele período, a missão torna-se complicada quando se tenta descobrir se alguém ainda possui alguma peça em boas condições de 40 ou 50 anos atrás. Mas, o Noticiar.net conseguiu localizar passenses que resgataram objetos e roupas carnavalescas guardadas com muito carinho. 

Afinal, na década de 1980 Passos possuía agremiações bem estruturadas desfilando na Avenida Arouca, considerada a "passarela do samba", onde muitas pessoas se aglomeravam nas arquibancadas para assistir ao show carnavalesco. Por muitos anos, as três principais escolas de Passos: Passense, Malandro é o Gato e Unidos do São Francisco fizeram a alegria dos amantes do Carnaval e protagonizaram disputas históricas. 


Para os desfiles, as escolas produziam enredo original, com samba-enredo, passistas, fantasias e alegorias, mestre-sala e porta-bandeira, bateria e carros alegóricos com direito a destaques com belas fantasias e até mulheres seminuas, numa verdadeira apoteose carnavalesca. E numa  cidade conservadora do interior de Minas Gerais. 

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Eurípedes com chapéu e espada de fantasias antigas guardadas até hoje

Um veterano dos Carnavais de Passos é o professor aposentado Eurípedes Gaspar de Almeida, famoso pelas disputas de fantasia de luxo nos clubes e escolas de samba com outro carnavalesco muito lembrado pelos passenses, Orestes Daher, já falecido.


Eurípedes diz que possui peças de cerca de 30 de fantasias de luxo e originais produzidas especialmente para desfilar na festa popular da cidade desde os anos 1970. Mas, sua grande paixão mesmo eram as fantasias de luxo. Ele se recorda bem o nome da primeira indumentária nessa categoria: Vai-t Trami-t no Templo da Tailândia, com espelhos portugueses. 


Chapéus, mantos, espada são algumas peças carnavalescas que Eurípedes mostrou à reportagem e que o transportaram para uma época de desfiles na rua Presidente Antonio Carlos, na Avenida Arouca e nos concursos de fantasias no Passos Clube e Clube Passense de Natação. 

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Orestes foi um dos protagonistas do Carnaval passense / Reprodução Memorial Fatos e Fotos

"Sempre encarei o Carnaval com seriedade, pois comprava pedras da Tchecolosváquia, espelhos portugueses , plumas de avestruz e faisão e peles de coelho", relembra. "Só o Carnaval nos dá o prazer e a alegria de encarnar pesonagens históricos como foi Shakespeare, que é uma das minhas fantasias preferidas", afirma. 

O professor sempre investiu pesado nas indumentárias, com plumas, paetês e pedras semipreciosas. Em valores de hoje, Eurípedes acredita que gastaria cerca de R$ 15 mil para dar vida à roupa de seus personagens, como as inesquecíveis Shakespeare in Love, Catador de Esmeraldas e Ming: a última dinastia chinesa. 

Eurípedes trajando fantasia de luxo Shakespeare in Love / Reprodução

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Além de folião, ele também trabalhou para o desenvolvimento da festa na cidade junto com outros nomes importantes, envolvendo-se com as três maiores agremiações da cidade em momentos diferentes. Nos anos 2000, ajudou a fundar a Caprichosos do Rio Grande e a Mocidade Independente do Morro. 


"Sinto muita saudade do Carnaval de Passos. Não esqueço quando comecei a desfilar, os troféus, campeonatos vencidos. A vocação de Passos é o Carnaval de rua, da escola de samba, que é um teatro ambulante, onde todos os aspectos da arte são mostrados ao povo", diz. "Ainda estamos lutando pela volta das escolas de samba, que são o fomento para retomarmos o tempo áureo do nosso Carnaval", complementa. 

Riquezas mineiras
Já a assistente social Efigênia Muzetti é dona de uma raridade do Carnaval passense com uma fantasia que completa 35 anos em 2024: um maiô bordado com paetês verdes e prata. No último ano de desfile para a Unidos do São Francisco em 1989, ela desfilou com a peça num carro alegórico alusivo às pedras preciosas mineiras. 


"Com essa fantasia, desfilei no carro Esmeraldas, pois o tema da escola era sobre as riquezas de Minas Gerais. Lembro que a fantasia era bonita com  o maiô, gargantilha, pulseira, bota prateada, adereço de cabeça e plumas verdes. Me recordo que muitas amigas vinham bordar fantasias na garagem de casa, pois a gente mesmo fazia os bordados das nossas fantasias", diz Efigênia. 

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Efigênia mostra maiô que ela desfilou na Unidos do S.Francisco em 1989; abaixo, foto do desfile com fantasia completa no carro alegórico

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Fotos do arquivo pessoal de Efigênia com fantasias carnavalescas

Ela conta que desde a adolescência gostava de Carnaval desfilando em blocos de rua até na escola de samba nos tempos áureos dos anos 80. "Os ensaios da Unidos eram na porta da minha casa e sinto muita saudade daquela época, principalmente do meu pai José Muzetti, que ajudava a fazer as espumas para a fantasia não machucar nossos ombros. Era muito carinho", recorda. 


Efigênia contabiliza que chegou a desfilar umas sete vezes, seja em blocos e escolas de samba. Não se esquece dos principais temas da Unidos do São Francisco, como a homenagem às agremiações cariocas ou um enredo sobre ciganos, quando desfilou na ala de jogos de baralho. 

"Usei uma fantasia de naipe de paus, que era amarela e preta. E a música do enredo de 1987, que homenageou as escolas do Rio de Janeiro, lembro até hoje: "Me beija, Beija-Flor, seja onde for, quero ver você me levar para os braços do Nosso Senhor", cantarola.


"Resgatar essa fantasia me remeteu às boas lembranças do rico Carnaval de Passos. Todo ano, divulgo nas minhas redes sociais uma foto de fantasia para matar um pouco a saudade e reativar a memória do nosso Carnaval, o qual me lembro com muita alegria", afirma a assistente social. 

Apito de bateria
Outro carnavalesco saudoso é Antonio Expedito Mizael, o Nengo, de 80 anos, que foi presidente da Escola de Samba Passense, a primeira agremiação da cidade fundada na década de 1950 pela mãe dele, Sebastiana Geralda Mizael, a dona Tiana, falecida no ano 2000. Além de presidir a escola, Nengo também foi mestre de bateria em 1992 e mantém o apito que comandou os ritmistas por muitos anos. 


"O apito está quebrado na ponta, mas eu guardo mesmo assim. Nos anos 1980 e 1990, chegamos a trazer pessoas do Rio de Janeiro para ajudar no nosso desfile", diz Nengo, que brincou o Carnaval desde menino com a mãe e a família toda na escola de samba. 

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Reprodução

Nengo, presidente da Passense, guarda apito que liderou ritmistas na agremiação desde 1992; no detalhe, a mãe dele, Dona Tiana, fundadora da escola

Além do apito, Nengo recorda que a família guardou cerca de 120 instrumentos da bateria usados pela Passense em 1992, quando ocorreu o último desfile da agremiação vencendo a rival Unidos do São Francisco. As peças foram guardadas fora da casa dele e, nos últimos anos, não sabe como está a situação dos instrumentos. 


A memória falha em alguns momentos devido à idade, mas Nengo resgata passagens carnavalescas que marcaram sua vida e família.

"Das antigas, lembro de uma fantasia de fraque que usei na escola", conta. "Carnaval é a manifestação mais importante do país e pessoas de cidades da região vinham assistir os desfiles em Passos. É de um tempo que o Carnaval trazia muita alegria para a cidade. Sinto muita saudade daquela época, mas que não volta mais se o poder público não ajudar", completa. 

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Apito guardado por Nengo, que foi mestre de bateria da Escola Passense

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