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ESPECIAIS

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A voz dos coletivos em Passos

Reportagem: Keuly Vianney

WebDesign: Hanna Teixeira

02/02/2021

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Dar voz a um grupo de pessoas que lutam por uma causa comum é o grande objetivo dos coletivos. Na gramática, a palavra significa agrupamento de seres ou objetos da mesma espécie, mas no caso dos coletivos sociais, os ativistas extrapolam esse conceito, pois conseguem mobilizar as pessoas para defenderem e lutarem por seus direitos e contra injustiças.

Apesar de pequenos, os coletivos são responsáveis por avanços importantes e conseguem até mudanças antes inimagináveis dentro da sociedade. Nos últimos cinco anos, muitos coletivos começaram a atuar em Passos em prol de causas que acabam sendo alvo de preconceito, racismo, machismo, dentre outros tipos de intolerância devido ao sexo, gênero, raça.

O Noticiar.net pesquisou sobre o trabalho de dois coletivos na cidade: Coletivo LGBTI+ (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais e Intersexuais), do Sind-UTE Passos-MG (Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais) e o Soul Mulher.

Criado em 2017, o LGBTI+ do Sind-UTE começou com apenas três pessoas e, hoje, agrupa 15 membros. O início não foi fácil, pois como os pioneiros eram sindicalistas, houve uma grande demanda pelas pautas urgentes do sindicato, adiando o trabalho do coletivo. Em 2019, mais pessoas se juntaram à causa e foram realizados os primeiros encontros e traçadas as principais metas.

“Entre elas, estava o combate à LGBTI+fobia no ambiente escolar.  Montamos um grupo de whatsapp para que pudéssemos ter um contato mais próximo. Porém, a mesma dificuldade que encontramos em conseguir mais colegas para compor o coletivo também encontramos no caso das denúncias, pois muitas pessoas que sofrem esse tipo de crime, por que, hoje, LGBTIfobia é crime, tem medo de se expor”, conta uma das idealizadoras do coletivo em Passos, Elisabete Pires de Oliveira.

         Para Elisabete, o papel de um coletivo é dar força aos seus integrantes e, também, aos que se identificam com eles (ouça áudio ao lado que ela gravou para o Noticiar.net falando sobre o grupo que atua).

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A história de vida de Elisabete, professora de inglês de 39 anos, é um exemplo de dedicação à causa. Ela assumiu sua homossexualidade em 2004 e é casada com uma professora desde 2008. “Sofri homofobia no meu local de trabalho em 2013 que chegou à agressão física. A partir daí, fui atrás de meus direitos”, revela.

Já são 7 anos de militância. “Hoje, não somos apenas membros da educação do Sind-UTE. Muitos se uniram à causa por afinidade e por acreditar que juntos nós podemos nos defender e nos organizar melhor. Nosso objetivo principal ainda é lutar contra o preconceito, mas para isso é preciso fazer as pessoas acreditarem que essa luta é necessária. Por isso, a conscientização permanece em nossa pauta”, explica.

Elisabete doando sangue pela primeira vez devido à campanha do coletivo em Passos; acima no detalhe, cartaz da campanha / Foto: Divulgação

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Com a pandemia, os integrantes tiveram mais tempo para se organizar, apesar do trabalho sindical não ter reduzido. Em julho de 2020, no mês do orgulho LGBTI+, ocorreu o lançamento oficial do coletivo nas redes sociais, com uma live de 3 horas duração, abordando temas como cultura, economia, educação e outros sob a ótica LGBTI+.

 “Em 2020, nosso coletivo também atuou em duas atividades que merecem ser lembradas, O Dia D, doação de Sangue LGBTI+ comemorando a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), e o repúdio a uma matéria de Dia dos Pais publicada no jornal local usando palavras extremante ofensivas para se referir a um homem trans”, lembra Elisabete.

Além disso, o coletivo passense também está abrindo espaço para contribuir em trabalhos acadêmicos de pesquisadores da comunidade LGBTI+. “Esses pesquisadores nos procuram para conhecer melhor nossa realidade e documentar nossos relatos. Penso que é um importante passo para que essas pesquisas contribuam em políticas públicas voltadas para a comunidade”, avalia.

O coletivo já agendou reuniões virtuais para o início deste ano a fim de estabelecer metas em 2021 e continuar na luta pelos seus direitos. “Uma das nossas maiores dificuldade é essa falta de confiança das pessoas em saírem da sua zona de conforto e se proporem a uma luta coletiva”, diz Elisabete.

Luta das mulheres

Outro coletivo de Passos é o Soul Mulher, em atividade desde 2015 e que atua pela causa do sexo feminino. Atualmente, seis mulheres estão na coordenação e mais 33 no grupo geral, além das participantes esporádicas. Nas redes sociais, são mais de 600 seguidores.

 

O Soul Mulher é um coletivo feminista interseccional aberto a todas as mulheres de Passos e região. As ativistas definem o seu objetivo: “Um coletivo de mulheres é um espaço acolhedor, que visa conhecer as lutas das mulheres de nossa comunidade e buscar maneiras de agir e de mudar os aspectos negativos da sociedade e do sistema que nos desfavorecem. Todas nós, mais cedo ou mais tarde, fomos objetos, ou pelo menos presenciamos situações como assédio, discriminação, silenciamento, entre outras situações que somos sujeitas somente por sermos mulheres”.

Pelo fato das questões de interesse político serem o maior desafio do Soul Mulher, as principais metas do coletivo são auxiliar e fiscalizar a rede de enfrentamento à violência; ser voz na busca da representatividade na sociedade e política passenses; oferecer acolhimento e solidariedade às mulheres e buscar transformar espaços de silenciamento em locais mais igualitários e justos.

 

Abertas para o público interessado, o Soul Mulher já promoveu diversas  Rodas de Conversa, nas quais são ouvidos relatos e experiências vividas pelo chamado sexo frágil. Conforme as coordenadoras, diversas mulheres em situação de violência procuram o coletivo nas redes sociais.

As Rodas de Conversa transformaram-se em grande aliadas nos direitos das mulheres, pois é ali que elas expõem seus problemas, recebem orientação e são encaminhadas na tentativa de sanar o conflito. Em funcionamento semanal ou quinzenal, a prática foi suspensa desde o início da pandemia.

A universitária Romilda de Fátima Silva é um exemplo de sucesso do trabalho do coletivo, pois ela recebeu apoio nas Rodas de Conversa.

Depois de sofrer violência doméstica e descobrir seus direitos, ela viu sua vida mudar ao retomar os estudos e ingressar no curso de pedagogia pela Universidade do Estado de Minas Gerais (Uemg). Ela gravou um vídeo contando sua história para o Noticiar.net (veja ao lado).

Entre 2017 e 2018, o coletivo deu voz e atendeu a vários casos de violência contra as mulheres. Outro resultado positivo veio com o convite para o Soul Mulher compor a mesa da rede de atendimento à mulher em Passos e região, chamado de Café Lilás.

 

Apesar do longo caminho a trilhar, as mulheres do coletivo vão continuar atuando em suas principais demandas, além de lutar pela construção da tão sonhada Casa Abrigo e de mais espaço público de atendimento às mulheres, mas descentralizados e desvinculados da Delegacia da Mulher.

“O papel dos coletivos é instruir e direcionar as demandas da população para que sejam ouvidas, além de no nosso caso ser um espaço de acolhimento e troca de experiências, mas não se trata de oferecer serviços assistenciais, diferentemente de uma ONG por exemplo. É um espaço político, o que não significa também dizer que é necessariamente partidário”, explica a coordenação do coletivo.
 

Dentre as metas para os próximos anos, elas citam o fortalecimento da rede para reunir as mulheres de Passos, retomar as Rodas de Conversa e obter um espaço físico público e fixo para as reuniões do coletivo.

SERVIÇO

Coletivo LGBTI+ do Sind-UTE Passos-MG. Facebook: coletivolgbtsindutepassos / Instagram: @coletivolgbtsindutepassos.

 

Coletivo Soul Mulher. Facebook: coletivosoulmulher / Instagram: @coletivosoulmulher / e-mail: coletivosoulmulher@gmail.com

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