DEGUSTE
Cozinha mineira como patrimônio cultural
Reportagem: Keuly Vianney
20/03/2021
Queijo artesanal, café, doce de leite, frango caipira, pão de queijo, quitandas são apenas algumas das delícias tipicamente mineiras que podem se tornar patrimônio cultural imaterial do Estado e do Brasil. A rica gastronomia de Minas Gerais, que completou 300 anos de história em 2020, já está sendo estudada para o reconhecimento, que ainda vai ajudar a pleitear o posto da cozinha mineira como Patrimônio Cultural da Humanidade, na Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco).
Para tanto, já está programada a solicitação do registro da cozinha mineira como patrimônio do Brasil ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). E tem mais: o Estado vai elaborar o Atlas da Cultura Alimentar de Minas Gerais de forma participativa e colaborativa, detalhando todos os alimentos e modos de fazer que são a base da culinária mineira.
Todo esse trabalho foi divulgado neste mês pela Secretaria de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais e do Instituto Estadual de Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha-MG), órgãos que estão pesquisando sobre a história e diversidade da gastronomia de Minas. Nesses 300 anos de história, a culinária também manteve sua tradição, influências e cultura alimentar que refletem no jeito mineiro de ser.
“A cozinha é a alma de Minas Gerais e vai além da sua crescente representatividade no turismo e na cultura do Estado: a cozinha mineira gera milhares de empregos diretos e é responsável por 30% da vinda de visitantes ao Estado, o que faz a economia girar nos diversos territórios mineiros", destaca o secretário de Estado de Cultura e Turismo, Leônidas Oliveira.
O secretário lembra que a culinária mineira movimenta uma imensa cadeia produtiva e possui base sólida na agricultura familiar, a qual ele considera fundamental para valorizar os produtores e agir na preservação da tradição e do desenvolvimento sustentável.
Para o presidente da Frente de Gastronomia Mineira (FGM), Ricardo Rodrigues, o reconhecimento de patrimônio imaterial irá projetar o Estado mundialmente, já que a cozinha representa um dos principais atrativos turísticos de Minas Gerais.
“A Cozinha Mineira, representada pelo respeito aos alimentos, pelo trabalho muito bem feito do campo à mesa, pelos mais variados ingredientes, modos de fazer e estilos de servir, traz uma identidade muito única e nos coloca no patamar das cozinhas mais bem representativas do país. Por esses e vários outros motivos ela já é e vai ser ainda mais um canal indutor do turismo nos níveis regional, nacional e internacional”, avalia Rodrigues.
Em fevereiro, o governo estadual já havia lançado o Plano de Desenvolvimento da Cozinha Mineira, integrando o Programa Estadual de Desenvolvimento da Gastronomia Mineiro (PEGM) e incluindo implantação de políticas públicas e privadas para a gastronomia mineira. Ao todo, serão 72 iniciativas entre 2021 e 2024 no valor estimado de R$ 163 milhões.
Modo de fazer também é considerado uma marca da gastronomia mineira
Pioneirismo
O olhar para os sabores da cozinha mineira já faz parte das ações de reconhecimento dos bens culturais de natureza imaterial de Minas Gerais desde seus primeiros processos. Em 2002, o Iepha-MG registrou o Modo de Fazer o Queijo Artesanal da Região do Serro, que se tornou o primeiro registro imaterial do país. Desde então, muito se avançou no campo da preservação do patrimônio cultural de natureza imaterial.
Nos últimos anos, o queijo Canastra ganhou fama mundial ao ganhar prêmios em concursos internacionais, principalmente na França. Confira abaixo algumas características das iguarias mais tradicionais da comida mineira (clique nas fotos para ler as legenda):
Internacional
Atualmente, a Unesco reconhece algumas tradições relacionadas a alimentos e bebidas como parte da Lista Representativa do Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade. Entre eles estão a dieta mediterrânea, da região Mediterrânea; a cozinha tradicional mexicana, do México; a refeição gastronômica dos franceses, da França; a base da culinária japonesa, chamada de Washoku, além de pratos e ingredientes específicos de países como Armênia (Lavash) e Turquia (café).
Com o reconhecimento na lista da ONU, há a possibilidade de se confirmarem algumas tendências de viagens para os próximos anos, motivadas por experiências gastronômicas e maior proximidade com as comunidades locais. Nesta análise, a Secult considera apontamentos de pesquisas de empresas que prestam consultoria para a indústria do turismo em nível internacional.
Com base nos aspectos da diversidade, da história, da identidade e dos modos tradicionais de fazer, a cozinha mineira já é um prato cheio para os viajantes que saem em busca de experiências aconchegantes em Minas Gerais, que é o único Estado brasileiro presente na lista das dez regiões mais acolhedoras do mundo, segundo a Travellers Review Awards 2021, da empresa Booking.com.
“Em Minas Gerais já temos o registro do Modo Artesanal de Fazer Queijo de Minas nas regiões do Serro, da Serra da Canastra e do Salitre, e está em andamento o registro do Ofício das Quitandeiras de Minas. Estes saberes tradicionais constituem expressões de mineiridade e seus detentores os transmitem a cada geração", observa a presidente do Iphan, Larissa Peixoto. "A riqueza gastronômica contribui diretamente no processo de valorização do turismo cultural e do desenvolvimento social e econômico", completa. (Com informações da Agência Minas)