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Direto de NY, passense

relata vida na pandemia

Reportagem e edição: Keuly Vianney

WebDesign: Hanna Teixeira

16/05/2020

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Os Estados Unidos já registram quase 1,5 milhão de casos confirmados do novo coronavírus, o maior número em todo mundo. No epicentro da pandemia, o passense Dayler Chagas, que mora há 23 anos em Nova York, relata para o Noticiar.net como sua vida mudou depois que o vírus disseminou com mais rapidez na Big Apple. No planeta, são 4,6 milhões de contaminados e mais de 300 mil mortes. Hoje, o Brasil contabilizou 233 mil infectados com mais de 15 mil vidas perdidas, ultrapassando Espanha e Itália. 

De março para cá, a vida do cabeleireiro mudou radicalmente. Acostumado com salões de beleza, tendo já atendido famosos do red carpet, hoje ele ajuda o companheiro, o médico internista Eric Scardina, especialista em doenças infecciosas, num consultório particular.

Devido ao avanço da doença em Nova York, Dayler testou positivo no exame para anticorpos do novo coronavírus no início de março. Não chegou a fazer o exame para detectar o vírus porque não sentiu sintomas da enfermidade. Agora, ele espera resultado de novos exames para acompanhar se terá algum tipo de complicação no organismo.

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Passense Dayler (esq) e companheiro Eric, médico que atende em NY / Foto: Arquivo Pessoal

“Ainda estão pesquisando, mas algumas pessoas estão tendo infecções no pós-Covid. Passei pelo ataque terrorista de 11 de setembro em 2001, passei pela H1N1, Sars e Mers (gripe do Oriente médio). Nada é tão assustador como a Covid-19”, disse Dayler. “Começamos nosso isolamento na primeira semana de março e não tenho projeção de quando voltarei a trabalhar no salão. Hoje, minha rotina é totalmente diferente”, conta.

 

Dayler sempre morou e trabalhou no lado leste de Manhattan. Para evitar a agitação da grande metrópole, mudou para uma casa de campo que fica a 2 horas do centro de Nova York. “Voltamos para a cidade todo domingo à noite para começar cedo os atendimentos no consultório na segunda-feira. Eu já estava ajudando o Eric há quase 10 anos, atendendo telefone e agendando pacientes. Mas desde o início de março, passei a fazer a triagem dos pacientes e recebê-los na porta, pois ninguém pode ficar na sala de espera para evitar contato”, explica Dayler.

O dia todo, ele confere se as salas de exame estão limpas, esterilizadas e devidamente prontas para receber o paciente, além de checar temperatura, pressão e organizar os exames para serem enviados aos laboratórios. Dayler e Eric usam os equipamentos de proteção mas, no meio da pandemia, alguns materiais, como máscaras, luvas e face shield (proteção facial), são quase impossíveis de serem encontrados (veja Galeria abaixo; clique na foto para ler a legenda).

Nas últimas semanas, foram atendidos 24 pacientes/dia, em média, no consultório. “A maior dificuldade é atender a quantidade de pacientes, uma vez que o governo pediu para quem tivesse sintomas do novo coronavírus que ficasse em casa. Muitos médicos fecharam seus consultórios e só atendem pacientes via internet. É quase impossível um paciente ter acesso a raio-x ou qualquer outro tipo de imagem”.

Conforme Dayler, uma centena de pacientes do consultório já testou positivo para a Covid-19, mas somente um foi hospitalizado. “Ainda não tivemos nenhuma fatalidade, graças a Deus. O Eric faz o possível e o impossível para manter os pacientes fora dos hospitais”, afirma.

Nesse momento, Dayler avalia que o número de pacientes testando positivo para o novo coronavírus sofreu uma queda no consultório. Agora, o exame de anticorpos é o mais procurado para checar quem já teve exposição ao vírus.

As expectativas para mudança do atual cenário não são muito otimistas para Dayler. “Pelo que a gente ouve falar aqui nos Estados Unidos, vacina somente no final de 2021. Nova York não começa a reabrir até início de junho e, infelizmente, há possibilidade de que teremos a mesma situação em setembro”, lamenta.

Fora do consultório, eles tentam se manter longe de locais de grande circulação de pessoas. “A cidade está em lockdown e somente os comércios essenciais estão abertos. Existem supermercados e farmácias 24 horas, mas tudo muito regularizado, com número contado de pessoas”.

Família

Grande parte da família de Dayler mora em Passos, onde estão sua mãe, irmãos, sobrinhos, outros parentes e amigos. O Brasil sempre o preocupou, principalmente em relação às medidas do presidente Jair Bolsonaro de não acompanhar as recomendações mundiais de isolamento social e fechamento do comércio para evitar disseminação do novo coronavírus.

 

“A situação do Brasil já nos preocupava desde o início da pandemia aqui em Nova York. De certa forma, fiquei surpreso, pois demorou um certo tempo pra vermos a doença crescer da forma que cresceu aqui nos Estados Unidos, onde tudo aconteceu em uma semana. Mas estou orientando minha família para manter o isolamento no Brasil”, diz.  

Alerta de prevenção

Direto do maior epicentro da Covid-19 no mundo, Dayler dá o alerta para as pessoas se manterem prevenidas até o fim da pandemia.  

 

“Mantenha o distanciamento social e, principalmente, os idosos e as pessoas de grupo de risco protegidos. Viva como se você estivesse infectado e proteja os que estão ao seu lado fazendo a sua parte. Pelo que vi, lockdown vai ser uma boa forma de conter a pandemia, uma vez que ninguém deu muito ouvido ao que a mídia vinha projetando. Esse vírus não vê cor de pele, idade, religião ou opção sexual”, lembra.

 

Dayler também ressalta as dicas de prevenção dos órgãos de saúde, como a Organização Mundial de Saúde, que valem a pena ser seguidas à risca. “Cuide da sua higiene e lave sempre as mãos por um bom tempo com sabão e use álcool gel. Quando sair, não toque o rosto, nariz, boca e olhos. As máscaras não são 100% seguras, mas ajudam de uma forma imensa a conter o vírus. Aqui, estamos recebendo kits de higienização gratuitos de empresas”.

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Kit hand sanitizer, presente de destilaria que Dayler recebeu para ajudar no combate à doença

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